O time de jogadores com episódios de indisciplina que apoia Bolsonaro

Um dos motes da eleição de Bolsonaro foi o discurso militar, que remete à disciplina – embora próprio presidente eleito tenha no currículo passagens que não o deixam ser sinônimo de bom comportamento, uma vez que foi preso por críticas à corporação e expulso da Escola de Oficiais por arquitetar um plano para jogar bombas sobre quartéis.

Em outro campo, o do futebol, alguns dos jogadores mais conhecidos que apoiam Bolsonaro protagonizaram ao longo de suas carreiras episódios de indisciplina. Estão na lista atletas como Ronaldinho Gaúcho, Felipe Melo e Diego Sousa, e o ex-jogador Edmundo.

Ronaldinho Gaúcho é um dos principais atacantes do time bolsonariano. Durante as eleições, ele postou uma camisa com o número 17 atrás. RG não é exemplo de pontualidade em relação a treinamentos. Em entrevista, o técnico Cuca o entregou dizendo que Gaúcho era o atleta mais “malandro” com quem já trabalhou. Certa vez, conforme Cuca, o jogador colocou a culpa pelo atraso no motorista, com quem teria debatido sobre o horário de início das atividades. “Pô Cucão, o seu Roberto [motorista] me fudeu. Eu falei que o treino era 9h, e ele disse ‘não, é 9h30’”. Quando o motivo não era seu Roberto, era injeção para febre amarela ou coisa do tipo.

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Gaúcho foi condenado por crime ambiental

Gaúcho recentemente teve determinada pelo TJ-RS (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul) a apreensão de seu passaporte, devido ao não pagamento de uma dívida por dano ambiental em Porto Alegre. Ele foi condenado por crime ambiental por causa da construção sem licença de um trapiche e canalização de um arroio no Lago Guaíba, em Porto Alegre. As obras foram feitas em área de preservação. Nisso, parece haver um outro ponto de sintonia com Bolsonaro, que não dá importância ao meio ambiente, a ponto de ter proposto a fusão do ministério responsável pela área com a pasta de agricultura e a retirada do Brasil do Tratado de Paris.

O atacante revelado pelo Grêmio ainda foi destaque num episódio típico de bolsominions secretos de muita gente (aqueles que gostam tanto da família tradicional brasileira que têm duas). Um colunista noticiou que ele casaria com duas mulheres – informação que o atleta desmentiu. Não há notícias de bigamia envolvendo Bolsonaro, o que se sabe, no entanto, é que ele está no terceiro casamento – o que não se pode dizer que seja exatamente uma família tradicional. Naturalmente, nada contra o direito de as pessoas terminarem relações fracassadas e iniciarem outra. O problema está em pregar valores morais, patrulhar comportamentos, ganhar apoio com esse discurso e agir de maneira diferente. Em outras palavras: hipocrisia.

Na retaguarda, outro fã de Bolsonaro, Felipe Melo é contumaz tomador de cartões – o mais famoso, um vermelho na quartas de final da Copa do Mundo de 2010, contra a Holanda, acabando com as chances de a seleção se recuperar na partida. Afastado por Cuca do Palmeiras em 2017, disparou áudio no whatsapp detonando o então comandante. Late alto, mas foi um cãozinho dócil na marcação do lance que gerou o segundo gol do Boca, pela semifinal da Libertadores, no dia 31 de outubro, marcado por Benedetto. Ironia do destino, o outro gol foi de Abila, camisa 17 (“quem com 17 fere, com 17 será ferido”, circulou nas redes). Volte e meia entra em discussão com jornalistas – ponto de convergência com o destinatária de seu apoio.

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O comportamento em campo já causou problemas para Felipe Melo

No último final de semana, Diego Souza comemorou um gol homenageando o atual deputado. Ele é outro jogador que aprecia um cartão vermelho desnecessário e que apoia o político. No início da carreira, foi considerado garoto problema e já protagonizou casos de agressão dentro dos gramados. Uma das vítimas foi Domingos, em 2009. O zagueiro, que na época defendia o Santos, levou um chute por trás de Diego após uma discussão.

Não temos conhecimento se Bolsonaro gosta de dar jogar uma bola vez em quando e se em campo tem comportamento violento. Fora dele, contudo, suas declarações revelam um homem com tons de vilania: defende a tortura e diz que é precisa matar uns 30 mil que a ditadura não matou.

A lista de atletas e ex-atletas polêmicos ainda é completada por nomes como Edmundo. Este teve episódios de confusão em campo e foi condenado em 1999 a quatro anos e seis meses de prisão, em regime semiaberto, pelos homicídios culposos de três pessoas e lesões corporais de outras três em um acidente de carro na madrugada do dia 2 de dezembro de 1995. Ficou apenas um dia preso e segue bem vivo atuando como comentarista na Fox Sports.

Voltando ao território da política, as caneladas de Bolsonaro não se restringem ao período em que foi militar. Ele segue disparando pontapés contra gays, negros (foi condenado por ofender quilombolas, os quais ele disse que pesavam algumas arrobas e não serviam nem para procriar) e minorias em geral. O elenco no seu entorno segue na mesma linha. O filho dele falou em fechar o STF com um soldado e um cabo. O seu vice-, general Mourão, disse que o 13° salário era uma jabuticaba e que famílias sem pai são fábricas de elementos desajustados.

Jogadores contrários

Em outra trincheira, a de futebolistas contrários a Bolsonaro, estão o zagueiro Paulo André e Raí. Paulo André é conhecido pelo profissionalismo e por apresentar boa cultura e articulação durante entrevistas. O atleta do Atlético-PR se recuou a usar camisa especial do Furacão que fazia apologia ao candidato do PSL. O presidente do clube apoia Bolsonaro.

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Paulo André foi o único jogador do Atlético que se recusou a usar camisa que fazia referência a Bolsonaro

Raí, por sua vez, disse que “depois dos resultados, fiquei triste e até assustado quando vi as reações do povo celebrando a vitória de um candidato que já mostrara valores absurdos e repugnantes”.

O futebol brasileiro, que nos anos 1980 foi símbolo de luta pela democracia, nos tempos recentes dá mostras de alienação. Se antes tínhamos a Democracia Corintiana, liderada por Sócrates, hoje temos movimentos menos engajados, com a turma do Tóis, de Neymar e Cia.

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