Em editorial, Super Interessante traça quatro sinais de alerta para a democracia

A Revista Super Interessante trouxe na edição de novembro editorial que alerta para os riscos que a democracia brasileira enfrenta diante da vitória de Jair Bolsonaro. O editorial cita o cientista político de Harvard, Steven Levitsky, autor do livro Como as Democracias Morrem.

Levitsky descreve a ascensão por vias democráticas de Mussolini e Hitler. “Ambos contaram com o apoio dos donos da grana, pois afastavam o fantasma do comunismo, e acabaram abraçados por políticos tradicionais, temerosos de se verem longe do poder”, diz o editorial, que menciona o apoio a Bolsonaro por parte da Confederação Nacional da Indústria e dos cabeças do agronegócio.

“É história. Um capítulo perigoso da história da humanidade se repetindo por aqui linha por linha. Palavra por palavra”, diz o texto.

O editorial se baseia no estudo de Levitsky e colegas seus de outras universidades americanas, que estabeleceram um conjunto de “sinais de alerta” para reconhecer políticos com pretensões ditatoriais.

“De acordo com eles, deveríamos nos preocupar quando o político:

1) Rejeita, em palavras ou ações, as regras democráticas do jogo. Bolsonaro afirmou em 1999 que “daria um golpe se assumisse a Presidência”. Hoje, prega contra a lisura do sistema eleitoral, criando pânico infundado sobre a segurança das urnas eletrônicas.

2) Nega a legitimidade de oponentes. Bolsonaro defende que as ações do MST e do MTST devam ser tratadas como atos de terrorismo.

3) Tolera e encoraja a violência. Em 2003, Bolsonaro teceu loas a grupos de extermínio durante um discurso no Congresso. Em 1999, disse que, se estivesse no poder, “mataria uns 30 mil, começando por FHC [o presidente da época]”. Também afirmou que “o País só vai mudar quando partirmos para uma guerra civil”. E defende a tortura.

4) Dá indicações de restringir liberdades civis de oponentes. Bolsonaro já disse que pretende “acabar com o ativismo”. A única realidade em que o ativismo não existe, vale ressaltar, é aquela sem liberdades civis.

Mais importante, e que diz respeito lá ao critério 1: Bolsonaro disse em julho que pretende aumentar o número de membros do Supremo de 11 para 21, com ele próprio indicando os dez juízes extras.

É basicamente o que o autoritário Viktor Orbán fez na Hungria, o que Jaroslaw Kaczyński fez na Polônia, o que Chávez fez na Venezuela. Controlar a corte suprema de seu país é o primeiro passo de qualquer ditadura contemporânea.

Não se trata de uma ilação deste autor. O próprio cientista político de Harvard enquadrou Bolsonaro nos quatro critérios, em uma palestra na Fundação Fernando Henrique Cardoso, em agosto. (…)

Nada disso significa que os mais de 50 milhões de eleitores de Bolsonaro sejam a favor de uma ditadura, ou que tenham pendores fascistas. De forma alguma. Seu eleitor típico quer segurança pública mais eficiente, quer escolas que prestem, quer punir a corrupção, quer menos impostos, menos burocracia. E está cansado dos discursos vazios que povoam toda a política tradicional”.

Para o autor do texto, o jornalista Alexandre Versignassi, isso é bem diferente de querer um governo totalitarista. “E as pesquisas provam isso. 69% dos brasileiros acham que a democracia é sempre a melhor forma de governo, independentemente da situação do País – em 1989, eram só 43%. O grosso dos eleitores de Bolsonaro faz parte dessa maioria”.

“Regimes autoritários, porém, não começam do dia para a noite. Eles vão comendo as instituições democráticas por dentro”.

 

*Crédito da imagem destacada: Eric Drooker

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