Estudantes de Curitiba adaptam musical Hedwig

Hedwig
Crédito: Eduardo Matysiak

O quão inusitado é ver uma adaptação do musical nova-iorquino Hedwig – peça aclamada nos anos 1990 no circuito alternativo off-broadway, depois adaptada ao cinema em 2001, chegando aos palcos da Broadway em 2014 – em Curitiba, e ainda mais uma montagem local, feita por estudantes?

“Você não tem ideia da dificuldade que é fazer um musical na faculdade”, resume a estudante, diretora e idealizadora do projeto, Laís Duarte. Após um ano de ensaios, a versão curitibana de Hedwig se tornou realidade na semana passada, e quem assistiu “Hedwig e o Angry Inch” pôde perceber que a realização não era apenas uma obrigação acadêmica de graduandos da FAP (Faculdade de Artes do Paraná), uma vez que se trata de um trabalho de conclusão de curso.

As três apresentações no Jokers (nos dias 20, 21 e 22 de novembro) mostraram uma adaptação profissional, com banda ao vivo bem entrosada, direção inteligente, maquiagem impressionante, e um show de Lucas Buzato na interpretação de Hedwig.

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Como tudo na vida, a adaptação local de Hedwig começou como uma ideia. A diretora Laís Duarte conheceu o texto em 2014, antes mesmo de entrar para a faculdade. “Desde o primeiro ano do curso eu estava pensando em fazer esse musical. Estamos trabalhando nesse espetáculo já faz um ano”. Ela uniu forças com Daniele Mariano e o desafio passou a ser encontrar um ator capaz de interpretar um personagem tão visceral, que além de tudo precisa cantar. Foi aí que, num exercício de faculdade, elas notaram o colega Lucas Buzato. “É um papel difícil, tem que carregar o público nas costas”, analisa Laís.

Para Buzato, interpretar Hedwig foi um processo intenso, fisicamente e emocionalmente. “Eu não conhecia o texto, mas comprei essa doideira. Embora eu seja ator, nunca tinha cantado nem encarado carga de texto tão grande como essa. É uma peça que dá vontade de fazer mais vezes. Para testar mais coisas, para ir aprimorando o que funciona”, afirma Lucas. “Com Hedwig, você joga tudo no liquidificador e mistura. A história não é contada de forma linear. Ela está vivendo o presente, com as pessoas que estão no show, mas ela vai e volta [em suas memórias]. A dificuldade é segurar essa energia. É uma exaustão, mas estou mais feliz que nunca”, completa.

A adaptação local se inspirou tanto nas primeiras montagens, quanto no filme e também na montagem da Broadway, que estreou em 2014. “A  gente foi encontrando esse lugares, algumas coisas do filme, algumas coisas da produção mais antiga e da nova. A nossa dificuldade foi traduzir isso para o público brasileiro. As piadas são muito nova-iorquinas. É uma coisa muito especifica dos EUA. Precisávamos pensar em como as pessoas poderiam entender a história e curtir Hedwig”, explica Laís, que adaptou a dramaturgia para o português e traduziu as músicas.

Uma outra montagem de Hedwig já havia sido encenada em Curitiba, em 2011, na Caixa Cultural. Foi a única vez. “Era uma montagem bem diferente, com duas Hedwig, pois ainda não tinha tido a adaptação da Broadway”, diz a produtora Daniele Mariano.

Depois da estreia bem sucedida em Curitiba, a pretensão é levar a peça além. “Estamos vendo a questão legal. O texto não é nosso. Mas a gente já começou a conversar com o compositor, que conversou com o autor e parece que estamos sendo bem recebidos. Eles adoram produções de Hedwig”, revela Laís.

O momento conservador pela qual passa o país gerou temores na equipe. “Obviamente, é um texto que não agrada pessoas mais conservadoras, mas ao mesmo tempo a Hedwig  está la, entregue, esperando o público responder. Eu fiquei insegura por causa de todas as questões políticas, fiquei com medo pelo Lucas. Do outro lado, nós também recebemos críticas, por colocar um ator cisgênero no papel de uma mulher trans, mas a Hedwig não é uma personagem trans. A história dela fala sobre gênero e sexualidade, mas ela em si não é transexual”, diz Laís.

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Sinopse

A peça Hedwig, escrita por John Cameron Mitchell, conta a história de uma cantora de rock ‘internacionalmente ignorada’, Hedwig, e sua busca pelo estrelato e pelo amor, e é contada quase como um monólogo.

Hedwig, cantora de rock`n roll, nasceu homem e se chamava Hansel, cresceu com sua mãe na Alemanha Oriental e passou a maior parte de seu tempo ouvindo a Rádio das Forças Armadas Americanas.

Quando tinha apenas seis anos, sua mãe contou a ele uma história sobre a origem do amor. A história era baseada num mito grego segundo o qual, originalmente, as pessoas eram dotadas de dois pares de braços e de pernas, e de dois rostos. Acontece que os deuses temiam seu poder e, então, Zeus lançou um raio que dividiu as pessoas em duas e as condenou a vagar pela Terra procurando suas metades perdidas. O sentimento que se tinha ao encontrar a outra metade era o amor. Desse dia em diante, Hedwig decidiu que encontraria sua metade perdida.

A oportunidade de realizar seu sonho surge quando Hedwig conhece Luther, um doce recruta americano, que se declara apaixonado por ele e o pede em casamento, prometendo levá-lo para os Estados Unidos a terra da liberdade. Há apenas um problema: é que para poder se casar com Luther Hedwig teria de se submeter a uma cirurgia para troca de sexo. Persuadido por sua mãe, e embora relutante, ele concorda; a operação, porém, não corre da melhor forma, o que é retratado na música “Angry Inch”. Hansel torna-se Hedwig.

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Ficha Técnica

Elenco: Lucas Buzato e Laís Duarte

Direção Geral: Laís Duarte

Co-Direção: Lucas Buzato

Orientação: Paulo Biscaia Filho

Figurino/Cenário/Maquiagem: Daniele Mariano

Iluminação: Daniele Mariano, Gabriela Valcanaia e Milena Sugiyama

Produção: Daniele Mariano

Assistente de produção: Lucas Eduardo

Operação de luz: Gabriela Pedroso e Milena Sugiyama

Operação de som & projeção: Ana Paula Melgarejo

Preparação Vocal: Joshua Medeiros

Banda

Baixo: Márcio Pereira Ribeiro

Bateria: Klismann Kurovski

Guitarra Solo: Júlio Prestes

Teclado: Joshua Medeiros

 

colaborou Eduardo Matysiak

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