O apresentador Ratinho andou dizendo que o Brasil precisa acabar com a polarização, naquele velho discurso que sugere uma “terceira via”. Foi além: declarou que o país precisa de alguém que não seja nem de direita, nem de esquerda. Mas parece que foi longe demais. Para sustentar tal declaração, ele teria que tirar o próprio filho da corrida presidencial de 2026 — algo que Ratinho Junior e o pai vêm articulando há tempos.
Isso porque Ratinho Junior é, sem dúvida, um dos nomes mais à direita entre os governadores do país. Disputa palmo a palmo com Tarcísio de Freitas e Romeu Zema — mas leva vantagem por ter sido pioneiro em políticas de desestruturação dos serviços públicos. Foi o primeiro a privatizar uma estatal gigante e lucrativa a preço amplamente questionado por especialistas e parlamentares de Oposição: a Copel. Mais tarde, Tarcísio seguiria o exemplo com a Sabesp. Ratinho também foi o primeiro a implantar em massa o modelo de escolas cívico-militares e a tentar o grande golpe contra a educação pública: a privatização das escolas. Só não conseguiu avançar como queria porque a comunidade escolar reagiu fortemente. Ainda assim, jogando com o regulamento debaixo do braço, o Palácio do Iguaçu conseguiu vender mais de 80 unidades.
Nota importante: Ratinho Junior também “exportou” a São Paulo o secretário de Educação, Renato Feder, que leva adiante o que iniciou no Paraná — e por lá, com suas empresas fechando contratos com o governo.
Em artigo recente na Folha de S.Paulo — para delírio dos “cidadãos de bem” —, Ratinho Junior ensaiou, além da tentativa de posar de “isentão”, o que deve ser o carro-chefe de sua pré-campanha: a segurança pública. O título fala por si: “Estados devem ter o direito de punir criminosos com rigor”. O que se lê depois é previsível, vindo de alguém escancaradamente alinhado à direita.
Como é comum entre políticos dessa vertente, Ratinho Junior aposta no sucateamento dos serviços públicos. A crise hídrica que atingiu diversos municípios do Paraná, chegando a deixar um hospital de Ponta Grossa dois dias sem água, é sintomática. Há duas hipóteses: ou é pura ineficiência, ou é estratégia para justificar mais uma privatização — neste caso, da Sanepar — algo que faz brilhar os olhos dos neoliberais de carteirinha.
Nas salas de aula, reina o caos e o adoecimento dos professores. Metas abusivas e plataformas digitais transformam a educação em um capricho de uma gestão tecnocrata.
Ratinho pai chegou a citar, em entrevista à Jovem Pan há cerca de um mês, o Paraná como exemplo, exaltando o filho por “não brigar com ninguém, não ter lado político, não bater de frente com deputado”. Uma pausa profunda aqui para respirar diante dessa fala carnavalesca — para não usar outro adjetivo. É verdade que só com 8 dos 54 deputados — os da Oposição — há confronto. Por diversas vezes, ele transformou a Assembleia Legislativa num apêndice do Palácio do Iguaçu, com votações-relâmpago em regime de urgência, como na privatização das escolas. Mas achar que isso é bom governo já é um pouco demais. E nem vamos entrar no mérito de como o governador garante essa “boa vizinhança”, para não precisarmos falar das estruturas viciadas de poder no estado do Paraná.
Ratinho Junior talvez seja mais polido que Jair Bolsonaro, a liderança que ele tanto admira. Mas, na economia e no modus operandi, é a velha política em seu modo mais intenso: práticas neoliberais e forte influência sobre partidos políticos, lideranças regionais e prefeitos.
Aqui vai outro clássico dos políticos de direita: contradizendo o discurso de diminuição do Estado, Ratinho Junior elevou os impostos no Paraná, com aumento no ICMS — o que impacta diretamente os preços pagos pelo consumidor.
O governador do Paraná pode até tentar se vender como alguém “sem lado”. É bom de propaganda — e investe pesado nisso. Mas, se sua candidatura vingar, não vai ser difícil desmascarar essa postura.