Caso Muffato: Advogado diz que jovem morto foi torturado; família vai à Justiça

A família de Rodrigo da Silva Boschen, jovem de 22 anos morto na última quinta-feira, dia 19, após ser abordado por funcionários do supermercado Muffato, em Curitiba, vai ingressar com uma ação judicial contra a rede. A medida foi confirmada pelo advogado da família, Leonardo Mestre Negri, em entrevista exclusiva ao Revérbero. Ele afirma que o objetivo é responsabilizar civilmente o estabelecimento pelos danos sofridos.

De acordo com a defesa, Rodrigo foi submetido a agressões brutais. O corpo foi encontrado com os pés amarrados e apresentava sinais evidentes de tortura, além de múltiplas lesões físicas. “A gravidade do crime é muito maior do que a inicialmente divulgada. A brutalidade e a covardia são incontestáveis”, declarou Mestre.

Quatro pessoas foram identificadas como envolvidas no crime: duas estão presas — um segurança terceirizado e um motociclista que passava pelo local e aderiu à agressão. Um terceiro suspeito, segurança do supermercado, também chegou a ser preso, mas já foi solto. O quarto suspeito, funcionário do setor de hortifrúti, está foragido e teria sido o responsável pelo golpe conhecido como “mata-leão”.

Suposto furto não foi comprovado

Rodrigo foi acusado de tentar furtar uma barra de chocolate, mas até o momento não há qualquer prova de que ele tenha cometido o crime. A versão é sustentada apenas pelos próprios agressores. Segundo o advogado, Rodrigo portava dinheiro, vestia o uniforme da empresa onde trabalhava e havia frequentado o mercado com a mãe na véspera dos fatos.

O jovem era portador de transtornos mentais e fazia uso de substâncias, mas não tinha antecedentes criminais. Em uma única ocasião, foi abordado com pequena quantidade de entorpecente, sendo classificado como usuário.

Família foi informada da morte dias depois

Além da violência, a defesa também questiona a demora na identificação do corpo e na comunicação à família. Rodrigo foi morto na quinta-feira, dia 19, mas os familiares só receberam a informação na segunda-feira (24). Para o advogado, não há justificativa técnica para o atraso. “O Paraná utiliza o método de identificação por impressões digitais com base nos registros do TSE. A vítima foi tratada com descaso, como alguém de pouca relevância social”, afirmou.

A família só soube do ocorrido porque vídeos da agressão começaram a circular nas redes sociais. Caso contrário, Rodrigo poderia ter sido enterrado como indigente.

Responsabilização civil

Embora no âmbito criminal apenas as pessoas físicas diretamente envolvidas devam ser responsabilizadas, a defesa confirma que a família vai acionar o Poder Judiciário para apurar a responsabilidade civil do supermercado Muffato. “A empresa tem o dever de garantir a segurança de seus clientes e fiscalizar seus funcionários, mesmo que terceirizados. A omissão diante da violência configura negligência”, disse Mestre.

Representantes da rede Muffato procuraram a família após a identificação do corpo e ofereceram arcar com os custos do funeral e sepultamento. O inquérito deve ser concluído nos próximos dias, já que há presos em flagrante.

Em entrevistas a outros veículos, o advogado Elias Mattar Assad, que representa o Muffato, afirmou que o mercado lamenta o ocorrido e que colabora com a Justiça para apurar as responsabilidades dos envolvidos. Reforçou ainda que o crime aconteceu fora das dependências do estabelecimento.

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