Mais uma professora morre em meio a cenário alarmante: 8,8 mil professores foram afastados por saúde mental no Paraná

Estado investe em tecnologia e eleva desempenho dos estudantes -

A educação pública do Paraná enfrenta um momento de profunda crise. Nesta quinta-feira (5), a professora Rosane Maria Bobato faleceu durante seu expediente no Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba — unidade da rede estadual que, neste ano, teve sua gestão administrativa transferida à iniciativa privada. Rosane lecionava Língua Portuguesa há mais de 29 anos e também já havia exercido a função de diretora da escola.

Segundo relatos da comunidade escolar, Rosane passou mal durante a aula e foi até a coordenação, onde recebeu acolhimento, mas não resistiu e morreu no local. A morte da professora comoveu colegas, familiares e estudantes, e reacendeu um debate urgente: o adoecimento mental de profissionais da educação.

A tragédia ocorreu menos de uma semana após o falecimento de outra docente, dentro do Colégio Cívico-Militar Jayme Canet, também em Curitiba. Os dois casos, ainda sob investigação, expõem um cenário cada vez mais grave: em 2024, mais de 8.800 professores da rede estadual foram afastados por transtornos psicológicos, o que representa 23,5% do quadro efetivo de docentes concursados (QPM).

Os dados foram obtidos por meio de requerimento oficial apresentado pela deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT), coordenadora da Frente Parlamentar de Saúde Mental da Assembleia Legislativa do Paraná. As informações são da Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (Seap).

Diante do que classifica como um “colapso silencioso”, a parlamentar denuncia um processo sistemático de assédio e pressão institucional imposto aos educadores. “Estamos falando de quase um quarto dos professores afastados por sofrimento mental. Isso não é uma exceção. Isso é um colapso. E há indícios de subnotificação”, alertou Ana Júlia.

A deputada também apontou o impacto de metas abusivas, cobranças excessivas, falta de autonomia e o uso intensivo de plataformas digitais, que sobrecarregam ainda mais os docentes. “Estamos assistindo à retirada silenciosa do direito à educação, e quem mais perde com isso são os estudantes e o próprio Estado do Paraná”, afirmou em plenário.

No último dia 3, Ana Júlia protocolou o Projeto de Lei nº 397/2025, que visa combater o assédio moral no serviço público. A proposta estabelece diretrizes para que abordagens feitas por gestores a servidores públicos sejam baseadas na dignidade humana, clareza, profissionalismo e respeito legal. O projeto também autoriza a criação de cursos obrigatórios de Gestão Humanizada para gestores públicos.

A situação também mobiliza a comunidade escolar e os movimentos sindicais. Neste sábado (7), após a Assembleia Estadual da APP-Sindicato, será realizado o Ato “Luto e Luta pela Educação”, em frente à sede da Secretaria de Estado da Educação (Seed), em Curitiba. A manifestação terá início às 12h, na Avenida Kennedy, nº 2511, no bairro Guaíra.

Com o lema “Plataformas adoecem. Assédio mata. Minha vida não tem preço”, o ato presta homenagem às professoras que faleceram em serviço e exige mudanças estruturais na política educacional do estado.

Na próxima segunda-feira (9), a Assembleia Legislativa do Paraná também realiza uma audiência pública para debater as causas do adoecimento físico e mental de professores e funcionários da rede estadual. A APP-Sindicato participará com denúncias sobre os impactos das privatizações, da imposição de metas e da política de controle adotada pela Seed, sob o governo Ratinho Jr.

A expectativa é que o parlamento pressione o Executivo por medidas concretas de proteção à saúde mental dos profissionais da educação e respeito à autonomia pedagógica nas escolas públicas do Paraná.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *