Mais uma vez, o governador Ratinho Jr. escolheu confrontar a comunidade escolar ao insistir em um projeto já rejeitado pelas próprias escolas. O governo decidiu realizar uma nova consulta em 96 unidades — uma prática aplicada apenas às escolas que rejeitam o modelo proposto pelo Executivo. Para aquelas que aderiram, não há reconsulta.
E, de novo, saiu desmoralizado das urnas: apenas duas escolas disseram “sim”, enquanto 83 rejeitaram e 11 não atingiram quórum, conforme levantamento da APP-Sindicato. O resultado reforça a tendência registrada desde 2024, quando a maioria das unidades também rejeitou o programa Parceiro da Escola.
O episódio revela que Ratinho Jr. concentra enorme poder político e administrativo, capaz de impor a sua vontade sem hesitação. No entanto, também demonstra que seus limites existem. Mesmo com intensa propaganda estatal, com o uso da máquina administrativa, carros de som, apoio de empresas contratadas e articulação de prefeitos e vereadores aliados, o governador não conseguiu impor a privatização.
A comunidade escolar, novamente, foi um freio para a postura antidemocrática e autoritária do governador — visível em diversos momentos, como na privatização acelerada da Copel e em declarações recentes nas quais o governador afirma que “não conversa com sindicato”. Nos dois dias de votação, houve forte mobilização de professores, funcionários, mães, pais e estudantes, que já haviam se organizado contra o programa em 2024.
Além disso, denúncias reunidas pela APP-Sindicato mostram que o modelo privatizante produz problemas concretos nas escolas onde já foi implantado:
— demissões injustificadas e alta rotatividade;
— contratação de pessoal sem concurso e sem formação específica;
— interferência direta na área pedagógica;
— pressão sobre educadores para manipular resultados;
— salas sujas, merenda de baixa qualidade e manutenção precária;
— ausência de transparência no uso do dinheiro público.
O custo do programa também desperta questionamentos: enquanto as escolas públicas recebem cerca de R$ 8 por estudante para despesas de manutenção, empresas parceiras passam a receber até R$ 800 por aluno, valor 100 vezes maior, sem prestação de contas pública detalhada — situação criticada inclusive por técnicos do Tribunal de Contas.
Além disso, dados levantados pela deputada Ana Júlia mostram um descompasso entre o custo real do programa Parceiro da Escola e as entregas feitas pelas empresas contratadas. Em algumas unidades, valores anuais que antes eram da ordem de cem mil reais passaram a ultrapassar um milhão e meio, sem que isso se refletisse em melhorias proporcionais na estrutura ou no funcionamento das escolas — ponto que reforça a necessidade de transparência e fiscalização do uso do dinheiro público.
Mais uma vez, foi a escola que lembrou ao governador que, mesmo em um estado no qual ele controla quase tudo e influencia diversos poderes, há barreiras que não podem ser ultrapassadas. A rejeição massiva ao Parceiro da Escola, somada à resistência ao modelo cívico-militar em várias unidades, evidencia que a comunidade escolar tem sido a principal linha de defesa contra iniciativas que fragilizam a educação pública, restringem direitos e favorecem interesses privados.