Por Guilherme Bittar e Eduardo Matysiak
É numa mesa improvida, em meio a uma calçada do Setor Comercial Sul de Brasília, que seu José Cicero cumpre o mesmo expediente há 40 anos, consertando sapatos e bolsas.
A vida de labuta se iniciou mais cedo, há tantos anos que seu José Cicero, 91, nem sabe ao certo. A única certeza que ele tem é de que não pretende parar. “Faz 40 anos que estou neste ponto. Quando eu não estou trabalhado aqui, em casa eu estou fazendo qualquer coisa”.
A voz já dá sinais do tempo. Sai baixa das cordas vocais experientes do sapateiro. Mas a disposição para o trabalho continua firme. “Eu gosto do serviço. Quem trabalha, Deus ajuda”.
A vida longa já o levou a morar em locais como Maranhão, Ceará e Piauí. Mas foi em Brasília que construiu uma família extensa, de oito filhos homens e cinco mulheres, “todos casados, graças a Deus”, e residindo na capital brasileira.
O encanto que mostra com o trabalho não se repete em relação à política. Há três eleições ele não vota. O presidente eleito não desperta a confiança dele. “Eu nem conheço esse cara”.
Com uma trajetória longa, ele diz não esperar muita coisa da vida. “O que eu espero da vida? A morte. Vou levando até quando Deus quiser”.
Aos jovens, deixa um conselho: “Nunca bebi, nunca fumei. Mas mulher é comigo mesmo”, brinca.