Policiais reclamam de defasagem salarial, sobrecarga de trabalho e falta de concursos públicos. Declarações de secretário aumentaram desconforto. No Sudoeste, há articulação para uma mobilização no dia 29
O descontentamento dos policiais militares do Paraná com o governo de Ratinho Júnior começa a ficar a cada dia mais evidente e a revolta ganha corpo diante de declarações desastrosas do secretário de Segurança Pública, o coronel Romulo Marinho Soares.
Os policiais parecem estar no limite e as reclamações são muitas. Se não está faltando gasolina nas viaturas, como durante o governo Richa, o tratamento dispensado à tropa deixa muito a desejar.
A defasagem salarial ultrapassa os 30%. Há relatos de sobrecarga de trabalho e críticas quanto à falta de concursos públicos. Algumas unidades da Polícia Rodoviária Estadual estariam praticamente sem policiais para operar nos postos, conforme relatos ouvidos pela reportagem, e em alguns municípios o policiamento seria “maquiado”.
A situação é tão crítica que no Sudoeste do Estado há articulação para uma mobilização no dia 29 de janeiro, conclamando para o cumprimento de direitos da categoria. No final do ano, policiais civis já haviam se mobilizado em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba, pedindo o cumprimento da data-base. (veja vídeo abaixo). E a revolta cresce com falas atrapalhadas do secretário de segurança pública.
“O descontentamento com a tropa é grande. O secretário está fora da realidade. Tem que rir para não chorar”, afirma o deputado Soldado Fruet (Pros).
O Deputado Estadual Requião Filho (MDB) diz que tem acompanhado a situação de perto e que todas as semanas recebe dezenas de denúncias dos policiais. Segundo disse, no ano passado, ele chegou a encaminhar um pedido de providências ao Ministério Público do Trabalho no Paraná sobre as escalas extraordinárias extenuantes às quais a corporação tem sido submetida.
Declarações
A declaração mais recente de Marinho aconteceu em Francisco Beltrão, nesta semana, quando o secretário criticou os militares da reserva e se vangloriou do aumento salarial de 3% dado aos policiais – percentual duramente criticado por policiais e autoridades ligadas à classe por não repor sequer a inflação.
O secretário também destacou o fato de a Secretaria de Segurança Pública ter passado, segundo ele, do oitavo para o quarto maior orçamento dentro da estrutura do governo. “Houve uma melhora. É claro que o governador não consegue dar 30% de data-base. Consegue dar 3%, que é o que está fazendo”.
Segundo o secretário, o pessoal da ativa está “supervalorizado”. “Eu digo o porquê: acabamos de anunciar a entrega de 18.700 novas pistolas que vieram da Itália. Pistola Beretta, moderna, adequada, nova”.
Marinho ainda tentou capitalizar como positiva a diária extra-jornada, anunciada recentemente e que permite ao policial trocar o direito à folga por dinheiro, o que também é alvo de duras críticas.
Crise aumenta
Foi o que bastou para jogar combustível numa fogueira que começou a se acender ainda em 2019 e agora parece chegar no seu ponto mais crítico. A proximidade das eleições deve colocar luz nos problemas, deixando o governador Ratinho Jr numa situação delicada, diante do que pode ser a maior crise do governo dele.
A crise também envolve os policiais civis, que no final do ano se reuniram em frente ao Palácio Iguaçu pedindo o cumprimento da data-base. (veja vídeo abaixo).
Repercussão forte na Assembleia
O coronel Marinho foi além. Ele disse que a iniciativa para aumentos salariais mais consideráveis deveria incluir a Assembleia Legislativa do Paraná.
Entre os deputados, a reação foi imediata. Parlamentares ligados aos policiais, como Soldado Fruet (PROS), Coronel Lee (PSL) e Requião Filho (MDB) se manifestaram.
O Soldado Fruet afirma que Marinho fala asneiras e questiona as melhorias mencionadas pelo secretário.
“ Que melhorias? Dizer que era a oitava e agora é a quarta não significada nada, é orçamento no papel. Pistolas italianas não pagam as contas dos policiais. Atrás de uma pistola tem um policial que está cansado, endividado e, às vezes, pensando em cometer suicídio”.
Segundo o soldado Fruet, em primeiro lugar deveriam vir as pessoas e não equipamentos. “Temos que valorizar as pessoas. 3% de data-base é uma vergonha. Pode até ser bastante para quem ganha R$ 20 mil como Coronel do Exército e mais R$ 20 mil como secretário. Mas para um soldado significa apenas R$ 80. E quanto à questão da data-base, a iniciativa de reposição é exclusiva do governador”.
Para Requião Filho, a postura do secretário de Segurança Pública é uma afronta, “sendo que na realidade estamos vendo nossos policiais desvalorizados e diariamente sofrendo com desgaste físico e mental. As reclamações têm sido constantes e registradas de forma generalizada, em todo o Estado, revelando as precárias condições de trabalho dos policiais militares e da segurança pública do Paraná”.
Requião Filho destacou que os policiais precisam de mais respeito e criticou as ações midiáticas criadas pelo governador.
“Quando falamos de condição de trabalho, não estamos falando de uma BMW nova que ficará bonita na propaganda. Estamos falando de policiais com um bom salário, com chances de crescer na carreira, com um bom equipamento. Estamos falando de uma polícia valorizada pelo governo e respeitada pela sociedade”.
Requião filho
O deputado Coronel Lee, em áudio que circulou no Whatsapp, diz que as ações do governo “arrebentaram” a tropa. “Tem mais de uma de centena de municípios onde estamos maquiando o policiamento. Como vai falar de pistola se alterou o edital unilateralmente sem executar os testes legais? Está colocando armas sem testes para os nossos policiais, uma bomba na nossa mão?”
De acordo com ele, é obrigação do governo conceder folga aos policiais.
“Vender a folga? Nós não temos folga, que seria um direito para nós. É obrigação do estado conceder para estarmos prontos para o combate no dia seguinte. O senhor arrebentou a nossa tropa e não serve para ser secretário”.
“Buscamos a dignidade do policial militar. Temos visto na propaganda do governo um Paraná pujante. E muitas vezes não temos essa valorização do nosso militar. Estamos trabalhando em conscientização da comunidade para que nos apoie e venha nessa luta conosco. Queremos ter nossos direitos assegurados como manda a lei. Não é possível que desde 2016 não tenhamos a reposição da inflação”, afirmou o Coronel Zanata, da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares Ativos, Inativos e Pensionistas No Paraná, em entrevista ao site RBJ.
O subtenente Marcelo Amaro Ferreira, policial militar há mais de 30 anos e presidente da Associação dos Policiais Militares do Litoral do Paraná, se manifestou duramente contra a atuação do governo do Estado na segurança pública. Ele se pronunciou em vídeo publicado no Facebook.
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https://www.facebook.com/1715109578739877/posts/2986399741610848/
Não dá para desconsiderar, também, a participação desastrosa do alto comando da PMPR nessa má gestão da segurança pública.
A postura militar está levando o alto comando colocar em primeiro lugar a obediência a uma cadeia de comando que o precede, mas esse comando precedente está se comportando de forma tirânica, isso faz com que esse alto comando, por melhor que seja, acabe negligenciando sua missão precípoa, que é cuidar do seu efetivo, dos seus Instituídos. Será que a Instituição vai bem com seu material humano desvalorizado, negligenciado? Algum equipamento e viaturas são obrigações logísticas do Estado, logo é obrigação do governo e não pode se confundir com o ser humano, aquilo que as pessoas necessitam, ora, são obviamente questões distintas. Pessoas, profissionais, precisam conviver com um ambiente de muito respeito, sobretudo a quem desempenha papel social importantíssimo ao Estado.
Está feio para as forças de Segurança do Paraná, outrora era uma das mais pujantes do Brasil, entre as 4 ou 5 melhores do nosso País, exemplo para os outros Estados, porém há alguns anos já consta como uma das piores situações salariais e de efetivo. Enquanto isso o Governo do Estado desonera Bilhões dos grandes empresários, os quais com certeza, colocarão dinheiro na campanha do atual governo. Quem sofre com isso é a sociedade, que por muitas vezes, bem sabe, pois o marketing do governo, além de caro, tenta encobrir a realidade.
Realmente a tropa está desesperada por um reconhecimento financeiro por parte do governo, apesar do péssimo salário, da extenuante carga horária, dos vários anos sem sequer receber a reposição inflacionária, ainda vende seus poucos e raros momentos de folga para dar um mínimo de dignidade e conforto a sua família.
As extrajornadas são uma farsa, limitadas ao máximo 3 no mês para cada PM, nem que o policial se submeta ao sacrifício deixam fazer.
LIXO DE COMANDO QUE COLOCARAM A FRENTE DA PMPR. NJNCA TEVE PERFIL DE LIDER E SIM DE UM BABACA, FALSO, ENGANADOR, E MAU CARÁTER. ALEM DE COVARDE.
Esse áudio foi uma das coisas mais desrespeitosas e ultrajantes que os policiais do Paraná puderam ter o desprazer em ouvir em anos. O secretário mostra insegurança, desconhecimento, dúvida quanto ao seu posicionamento e arrogância na mesma fala. Mostra uma falsa ideia de que respeita e tem apreço pelas forças de segurança. E não tem. Nenhum policial quer arminha nova, vender folga, vale alimentação, a solicitação sempre foi algo legítimo e lícito e de direito. A reposição salarial e o trabalho conforme encontra-se as horas no holerite. Mas isso sequer tiveram a coragem de negociar com as classes. Falta coragem…
O Sr. coronel Lee, dentre outros, “valorizou” a PM, votando a favor do fim da licença especial, só pra lembrar.
E agora o policial recebe como salário menos de dois salários mínimos: https://reverbero.com.br/2022/01/14/salario-minimo-no-pr-sobe-para-r-1-87000/