O lançamento nessa quarta-feira, dia 5, da nova rede social “Threads”, uma extensão do Instagram pertencente ao grupo Meta, gerou alvoroço no mundo digital. O Revérbero foi um dos primeiros 200 mil usuários a se cadastrar e a conhecer a nova plataforma.
Lá dentro, a pergunta que muitos se faziam era: precisamos de uma nova rede social? Ao passo em que as pessoas se perguntavam, lamentavam-se por terem que estar presentes em mais um espaço digital. Parece que viramos reféns delas.
Por isso, nossa resposta à pergunta é “sim” e “não”.
Para a resposta “sim”, o argumento é que precisamos porque estamos nesse mundo sem volta, infelizmente, e as redes tradicionais se desvirtuaram. Não quer dizer que o Threads seja a solução e que não irá para o mesmo caminho, mas é uma tentativa.
Muitos veem no Instagram hoje um ambiente indesejado, por criar ansiedades diante do excesso de ostentação e vidas falsamente perfeitas. Atualmente é a rede mais usada pelos brasileiros, com 85 milhões de usuários. Sua essência, contudo, nunca foi a de gerar trocas, até porque o foco é foto e não texto. Seu DNA é a exibição. O Instagram deixou de ser orgânico no sentido amplo da palavra, se é que algum dia foi. Ao jogar um falso glamour no mundo, repeliu muitos usuários que não acreditavam mais naquela fantasia, naquele falso “lifestyle” – um dos termos que tornou famoso.
O Tik Tok inovou ao apostar unicamente em vídeos e revelou mais uma pancada de gente que de repente ficou famosa, novos influencers, uma procissão de “produtores de conteúdo”. No entanto, muitos já se cansaram de suas dancinhas ou frases motivacionais. Além disso, trata-se de um ambiente em que a maioria dos usuários consome conteúdo, porém, não produz. Também aqui não temos um ambiente para trocas.
O Facebook, por sua vez, se perdeu no seu mar de configurações, grupos, botões e textões. Virou o MS-DOS das redes sociais — uma rede confusa, pesada e feia, que acabou dominada por posts pagos e impulsionados. Nesse último caso, o Instagram também.
O Threads chega com foco em textos curtos com o objetivo de desbancar o Twitter, que já vem perdendo audiência, e para isso traz algumas vantagens: como permite importar os seguidores do Instagram, o Threads cria conexões reais, diferente da rede de Elon Musk, onde boa parte dos usuários não assina com o próprio nome e muitos dos que estão conectados não se conhecem. Assim, sentem-se à vontade para destilar ódio e agressividade.
A relação pré-existente entre usuários tende a fazer do Threads um ambiente um pouco mais agradável, com menos gritaria que no Twitter.
Talvez, as pessoas queiram apenas voltar a se expressar de forma despretensiosa e até boba e ter um local para isso, como um dia tiveram no Orkut, depois no Twitter e, por fim, no Facebook.
Memso assim, o Threads tem tudo para fracassar nesse sentido, embora deva ser um sucesso comercial: simplesmente porque quem faz as redes são as pessoas. E não é improvável que logo a plataforma esteja atolada de posts de engajamento, fake news, de listinhas bobas, de poste uma foto disso e daquilo, de marcas e influencers brigando por espaço, de políticos cheios de raiva, de pessoas dizendo “me segue que te sigo de volta”, de selinhos azuis pagos e de biscoitagem – fotos sexualizadas para ganhar curtidas.
São comportamentos que já estavam presentes ontem, logo no dia do lançamento. Uma especialista em marketing digital já buscava seus cliques e clientes e explicava como as pessoas deveriam se comportar naquele espaço. Uma fake news daquelas rolava à solta na timeline (se você já entrou no Threads, só tem como sair cancelando a conta também no Instagram, uma estrondosa mentira). Homens e mulheres com belos corpos postavam suas fotos com pouca roupa. São atitudes inevitáveis. A questão é em qual proporção acontecerão.
Tecnicamente, a rede tem muito a melhorar. Como está, é um Twitter com painel de jipe – bem simples. São poucos os recursos: não tem hashtags, trending topics, busca por assuntos. Parece uma falha e é possível que seja de fato. Mas pode ser também intencional e ser esse o segredo para combater todos os vícios que existem nas redes consolidadas, nas quais a busca desesperada por engajamento é, certamente, o maior mal. Com menos recursos, fica mais difícil “lacrar”. Além disso, o Threads não possui mensagens privadas, lives, spaces – recursos existentes no twitter.
Para a resposta “não”, devemos dizer que não nos deslumbramos com redes sociais. Embora tenham algumas vantagens, elas fazem muito mal ao mundo e às pessoas e precisam de um controle melhor para um uso inteligente. É necessário cada vez mais e mais legislações que abordem o tema e que, inclusive, restrinjam ferramentas utilizadas sem dó pelos desenvolvedores para manter as pessoas presas nas redes, bem como discutir mecanismos para restringir o tempo em que ficamos nelas.
Nesse sentido, se for para o Threads ser mais uma rede com todos os defeitos das outras e que nos mantenha ainda mais presos ao celular, é claro que não precisamos disso. Se trouxer um ambiente mais saudável, então será positivo, desde que o tempo que destinamos à plataforma seja inteligente.
Fatalmente, fechamos o texto sem responder direito às premissas iniciais e lançando ainda uma terceira pergunta: o Threads vai dar certo? Seus usuários e seus desenvolvedores é que dirão.