O Paraná “montou numa porcada” com novo pedágio, afirmam deputados, e não há marketing que resista às altas tarifas
O leilão do segundo lote do pedágio no Paraná foi considerado um fracasso por deputados tanto da oposição quanto da base do governo. Com apenas um concorrente, desconto irrisório e sem aporte para garantia de obras, o que era para ser um leilão virou lance único. O assunto marcou a sessão desta segunda-feira, da 2, da Assembleia Legislativa do Paraná.
O “leilão” do Lote 2 do novo pedágio, realizado na última sexta-feira, dia 29, contemplou 604 quilômetros de rodovias e teve única proposta com desconto de apenas 0,08% – se é que dá para chamar esse índice de desconto. Sem concorrência, as tarifas serão altas e devem superar a do pedágio anterior em alguns anos, quando entrarem em vigor os chamados degraus tarifários.
Diante das críticas severas dos parlamentares e do resultado pífio do leilão, o líder do governo, o deputado Hussein Bakri (PSD), pareceu “lavar as mãos” e tentou jogar a culpa apenas no governo federal – uma pedra cantada lá atrás, quando muitos alertavam que Lula estaria entrando numa enrascada com o pedágio defendido por Ratinho Jr. e que o governador capitalizaria as obras da concessão como mérito seu, ao passo em que jogaria a culpa pelas altas tarifas no governo federal.
Contudo, é preciso lembrar que Ratinho Jr. e o secretário Sandro Alex foram os principais defensores do modelo que está sendo implantado no estado e que, após muita insistência do governador, o sistema acabou acatado pelo governo federal. A oposição no Paraná e a Frente Parlamentar do Pedágio sempre denunciaram os riscos e a realidade parece ter vindo à tona antes do que se imaginava.
Enquanto Ratinho Jr. criticava a oposição no Estado por querer um pedágio “caipira”, que seria mais barato, os opositores rebatiam que o modelo defendido por ele era um pedágio playboy, porque seria tão ou mais caro que o Anel da Integração. “Só não imaginávamos que seria tão playboy assim”, reclamou o deputado Requião Filho (PT), na sessão desta segunda-feira, dia 2.
Estima-se que o leilão fracassado represente um aumento imediato no custo de frete de mais de 10%, “o que vai ser mais inflação, com produtos mais caros,” diz o líder da Oposição.
“Temos um leilão que não aconteceu. Um leilão tem que ter lance, concorrência. Não teve leilão. O desconto? Zero virgula zero. Não teve desconto! O modelo do pedágio foi defendido pelo governador Ratinho Jr, porém esse maldito modelo foi abraçado pelo Lula, que gravou até vídeo. A culpa está rachada entre o governo estadual e governo federal. Assumam a culpa desta porcaria que fizeram e nosso trabalho é desatar estes nós”.
O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD) afirmou que não há marketing que resista quando os paranaenses sentirem no bolso o peso do novo pedágio e aponta diversas falhas no processo, como a falta de recontagem de tráfego. “O discurso aceita tudo. O mundo real é quando o usuário chegar na cabine e pagar a tarifa de pedágio. E aí não há propaganda que sobreviva”.
Em São José dos Pinhais, por exemplo, a tarifa começará em R$ 22,30. Além disso, conforme cálculo do gabinete do deputado estadual Arilson Chiorato (PT), se antes um caminhão com 6 eixos gastava R$ 348,60 ao trafegar por todo o trecho do lote 2, agora, com a concessão passará a pagar R$ 150,27 a mais, totalizando R$ 498, 87. “Uma vergonha”, resume Chiorato.
Para Chiorato, o resultado do leilão é catastrófico. “Não existe mágica, o pedágio vai ficar mais caro no Paraná. Além disso, o verniz de transparência, dado pelo leilão na B3, não garantiu o tal aporte, que era usado pelo governo como mecanismo garantidor de obras. E agora, quem vai garantir as obras?”, questionou.
De acordo com Romanelli, é necessário que o governo federal reveja a licitação. Ele ainda levantou questionamentos sobre o porquê pedageiras tradicionais não entraram na disputa – mas apenas um fundo de investimentos, o Grupo ERP, sem experiência na área. “Por que a CCR e a Ecorodovias não participaram do leilão? O governo tem quem nos dar explicações. Ou é um conluio e cada um já ficou com um lote e todos vão ficar com lucros extremamente elevados?”.
Para o deputado Tercilio Turini (PSD), o novo pedágio pode comprometer o futuro do Paraná. “Lá no interior, quando uma pessoa era enganada, falávamos que a pessoa montou num porco”, disse Turini. Romanelli completou: “Montamos numa porcada”.
“Fiquei extremamente preocupado com o resultado desse leilão, que na verdade foi a homologação de uma única proposta. Não estamos levando em consideração que praticamente todas as praças terão degraus. O setor de cargas será extremamente penalizado. Será uma tragédia. E não adianta querer comprar o pedágio de agora com o anterior, porque as praças anteriores eram todas superfaturadas”, salientou Turini.
Líder de Ratinho Jr. lava as mãos
Diante das fortes críticas, o líder do governo, Hussein Bakri (PSD), pareceu lavar as mãos. “As decisões relativas às BRs são do governo federal. A ANTT, comandada pelo governo, é que regula os transportes. Quem que comanda, quem que é o ministro, quem decide? O governo do Paraná fez o dever de casa corretamente”.
Ele ainda argumentou que o governo do Estado não tem como adivinhar quantas empresas participarão e jogou a batata quente na mão do governo federal. “O Requião Filho falou que Lula prometeu na campanha pedágio barato. Dá tempo de fazer ainda: temos mais 6 lotes que serão objetos de leilão. Vocês têm toda a oportunidade de fazer da maneira que acharem, pois têm interlocução com o governo, com o ministro, com o presidente, que tem o poder discricionário de fazer o que achar melhor”.
Mais caro e com mais praças
O deputado Arilson Chiorato, que coordenou a Frente Parlamentar sobre o Pedágio, destacou que após o quinto ano, vai ter degrau tarifário. “E mais: só no lote 2, de quatro praças, vai saltar para 7. No total, vamos sair de 27 praças para 42, ou seja, vamos pagar mais pedágio, o que vai comprometer a competitividade econômica”, lembra.