Assessoria
Até o dia 15 de novembro acontece no Espaço Obragem a curta temporada do espetáculo Retilíneo. Com dramaturgia e direção de Carlos Canarin, a peça teve a sua estreia na 16ª edição do Festival de Teatro de Pinhais, levando o prêmio de melhor dramaturgia.
O texto criado em 2019, no Núcleo de Dramaturgia do Sesi/PR, foi finalista do I Prêmio Literário Maria Firmina dos Reis e vencedor da I Mostra de Textos Breves do Coletivo A Digna (SP). E em 2023, “Retilíneo” ganha sua primeira montagem. No elenco para a temporada, estão Isabel Oliveira, Carlos Canarin, Kelle Bastos e L. Mazarotto. O espetáculo trata sobre o genocídio negro brasileiro, desde a escravização de povos africanos até a violência policial e o encarceramento em massa nos dias atuais.
A peça é dividida em quatros histórias: uma menina africana que vê a chegada das naus portuguesas; um homem escravizado sendo vendido num mercado público brasileiro em 1700; uma mãe que está afastada de seus filhos; e um rapaz que anda pelas ruas do centro da cidade voltando de uma festa, quando é abordado por uma viatura policial.
O início
“Retilíneo” começou a ganhar forma no Núcleo de Dramaturgia do SESI-PR em 2019. Carlos Canarin, na época estudante de Teatro da Faculdade de Artes do Paraná, foi o primeiro dramaturgo negro a passar por uma edição do projeto em dez anos de sua existência em Curitiba, ação esta que foi responsável por formar novos escritores para a cena local. Desde o início do processo, Carlos já expressava a vontade de criar um texto que tratasse poeticamente sobre o que é ser negro no Brasil, o que faz uma pessoa ser negra além da cor de sua pele, e sobre os processos de racialização desse corpo. Foi em 2019 que ele teve o primeiro contato com as obras de Abdias Nascimento, o criador do Teatro Experimental do Negro (TEN).
“Durante todo o processo comecei a puxar algumas memórias de criança, da relação com minha mãe, que desde sempre falava que eu era um menino negro em Porto Alegre, no sul do Brasil, em uma capital “branca”, mas que apesar disso a cultura negra fervia e ferve e está em todos os cantos, seja na arquitetura, nos costumes, nas palavras e na religião. E no processo de escrita utilizei essas memórias, usei autoficção, manipulei essas memórias, criando e emprestando isso para outros personagens. “Retilíneo” é um texto que fala sobre o genocídio do povo negro, que começa desde a escravização com a chegada dos portugueses na África, e na mercantilização e desumanização desses corpos, que segundo Abdias no livro “O genocídio do negro brasileiro”, é um processo que acontece desde quando africanas e africanos foram sequestrados da África, e que continua nos dias atuais. Com o passar do tempo esse processo foi adquirindo outras facetas, como o aumento da população carcerária, a morte matada, a violência policial e também a morte na ordem do simbólico, na ordem da fala, de como a população morre quando perde o direito da palavra ou da escrita, quando deixam de criar a partir das nossas próprias narrativas. “Retilíneo” vem muito desse lugar, de partir de uma memória, de um lugar que é meu que se mistura no coletivo da população negra”, lembrou Carlos Canarin.
Elenco
Em 2019, “Retilíneo” ganhou uma leitura dramática, encenada por parte do elenco que está em cena na montagem que estreia em Curitiba. Isabel Oliveira, atriz experiente, que levou em 2023 o I Prêmio Pretas Potências, categoria Artes Cênicas – Pretahub e Ministério da Cultura e Melhor Intérprete da 16ª edição do Festival de Teatro de Pinhais pelo espetáculo “Memórias duma Baobá”, que tem também dramaturgia e direção de Carlos Canarin. “O texto do Carlos, chegou na minha mão em um momento muito importante, onde eu comecei a entender que eu precisava falar das nossas questões na cena, eu estou no teatro há quase 30 anos e naquele momento eu me dei conta que eu sabia muita coisa de teatro, que eu sabia fazer muitas personagem escritos e realizado por pessoas brancas. E estar no elenco de ‘Retilíneo’ tem sido muito importante, levando essa sensibilidade das mães pretas no espaço da cena. Estou muito orgulhosa de fazer parte desse processo, estou desde a primeira leitura e venho acompanhando o crescimento dessa dramaturgia”, disse Isabel Oliveira.
Kelle Bastos, atriz e arte-educadora, começou a sua carreira ainda na adolescência. Graduada em licenciatura em teatro , desenvolve pesquisa sobre o teatro negro e a educação antirracista, fala do sentimento de fazer parte do elenco. “Falar de ‘Retilíneo’, é falar sobre potência e sobre aquilombamento. Estar no elenco tem sido um aprendizado constante. Poder falar sobre as nossas questões que atravessam os nossos corpos negros é um ato político e revolucionário. Além disso, ‘Retilíneo’ fala de poéticas, de afetos e memória, é um projeto sonhado junto e está sendo realizado com pessoas que sonham e acreditam em um novo futuro”, comentou Kelle Bastos.
L Mazzarotto é o mais novo no elenco de Retilíneo, mas conta com 18 anos de experiência no teatro, participando de 32 montagens entre teatro amador e profissional. “Uma das coisas mais impactantes para mim dentro do processo foi o reencontro com questões que eu não olhava há muito tempo, tem sido uma oportunidade de revisitar as minhas origens. Mais do que falar sobre essa história, o mais importante é ter essa peça apresentada por pessoas negras e escrita por um dramaturgo negro, pela ótica de uma pessoa negra com suas subjetividades, e isso é muito importante e necessário”, disse L Mazzarotto.
Carlos Canarin, dramaturgo e diretor de Retilíneo, na temporada de Curitiba estará em cena, substituindo o ator Vini Sant. Ele falou dos desafios de estar em cena novamente. “Para mim é como aprender a atuar novamente, pois estou ‘afastado’ dessa função desde 2019, quando comecei a me dedicar especialmente à direção e à dramaturgia. É também um reencontro meu com esse texto que está encharcado de minhas próprias escrevivências como um homem negro a partir de uma outra perspectiva que é a continuação do processo que começa na escrita, mas que termina somente quando é traduzida em corpo, voz e encontro com o público”, finalizou Canarin.
A Curta temporada de Retilíneo, acontece entre os dias 09 a 15 de novembro de quarta a domingo, os ingressos já estão à venda pela plataforma Sympla.
Ficha técnica:
Dramaturgia e direção: Carlos Canarin
Assistente de direção: Isabel Oliveira
Elenco: Carlos Canarin, L. Mazzarotto, Isabel Oliveira, Kelle Bastos e Vini Sant
Cenografia: Wilison França
Figurino: Beatriz Alves
Costura: Marli, Nere Soares
Iluminação: Rafael Araújo
Operação de luz: Nátali Lara
Sonoplastia: Carlos Canarin
Operação de som: Diogo Marcelo
Maquiagem: Mayara Nassar
Registros visuais: Paulo Silveira
Material gráfico: João John
Preparação vocal: L. Mazzarotto
Direção de produção: Vanessa Ricardo e Diogo Marcelo
Assessoria de imprensa: Vanessa Ricardo
Produção: Batalhão Cia de Teatro
Apoio: Garalhufa Escola de Atuação
Serviço:
Retilíneo
Onde: Espaço Obragem – Alameda Júlia da Costa, 204 – Bairro São Francisco
Quando: 09 a 11 de novembro com sessões às 18h00 e 20h00
12 de novembro com sessões às 15h00, 17h00 et ás 19h00
15 de novembro com sessão às 19h00
Ingressos: Todo mundo paga meia R$25,00