Quatro botecos tradicionais de Curitiba estão documentados em um fotolivro de estudantes de Design da FAE Centro Universitário. O projeto “Naquela Mesa: entre Copos e Memórias” revive histórias das famílias proprietárias e de seus clientes por meio de depoimentos e fotos que estão organizados em um fotolivro documental. Quatro bares e botecos fazem parte do fotolivro: Bar Stuart, Makiolka, Bar Luzitano, Bar do Toninho. O projeto é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso do curso da equipe composta por Fernanda Reis, Fernanda Saldanha, Winnie Lôla e Lívia Dias Silva.
“Nossa ideia foi utilizar da nostalgia para mostrar ao público jovem os bares e botecos que são ícones em nossa cultura curitibana”, resume Fernanda. O produto encontrado para fazer o trabalho foi um fotolivro, mas para chegar na ideia final, tanto a escolha do tema como o produto, não foi fácil. “O processo de escolha do tema foi doloroso. Pensamos em muitos temas diferentes, mas com a certeza a ideia era falar sobre um tema que abordasse algo tipicamente brasileiro, uma vez que cada integrante da equipe tem uma origem diferente, e sabemos que os bares e botecos são tipicamente brasileiros”, conta Fernanda, que é curitibana. Winnie é do Pará, Fernanda Reis é de São Paulo, e Lívia, carioca. Além do fotolivro, as estudantes também construíram uma página no Instagram para relatos (@projeto.naquela.mesa).
Para Fernanda Saldanha, o trabalho não só traz histórias interessantes sobre a boemia, sobre a cultura e a história curitibana e brasileira – afinal, os bares e botecos são tipicamente brasileiros – como também vai mexer com as emoções. Segundo Fernanda, o fotolivro oferecerá ao público uma imersão visual e emocional na cultura de boteco, destacando sua diversidade gastronômica (embora esse não fosse um critério de escolha, mas também é considerado importante), contribuições culturais e relevância histórica como espaços de resistência e sociabilidade. “Com essa abordagem, o trabalho busca preservar as memórias desses botecos e promover uma apreciação mais profunda, proporcionando uma visão enriquecedora da identidade curitibana e brasileira”, diz Fernanda Saldanha.
O tema do trabalho também se conecta com a ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis. Essa meta busca tornar as cidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Ao valorizar os botequins como espaços de sociabilidade e integração social, o projeto contribui para preservar tradições locais e fortalecer a identidade cultural da cidade.
O trabalho
Após a escolha do tema, o processo de construção do trabalho não foi longo: em torno de seis meses. De início, a equipe selecionou 120 bares e botecos. As alunas chegaram a conhecer muitos desses 120, mas como os critérios para a participação no trabalho eram bastante detalhistas, no final ficaram apenas os quatro já mencionados. Fernanda explica que entre os critérios estavam: bares e botecos mais antigos; horário de funcionamento (do cafézinho da manhã à cervejinha da noite) clientela fixa, fiel e assídua; presença de balcão para atendimento; se a propriedade do estabelecimento teria sido repassada de geração a geração; sem foco na gastronomia, mas sim, nas bebidas;e que houvesse mais de 15 anos de história.
Depois de selecionar os quatro bares e botecos, a equipe realizou visitas ocultas, ou seja, sem mencionar aos proprietários ou funcionários que estavam ali para fazer um trabalho. A segunda etapa foi retornar ao local, várias vezes, para captar os depoimentos e fotos.
O trabalho também contou com uma pesquisa teórica detalhada sobre a origem dos bares e botecos (botequins) e sobre a presença desses tipos de estabelecimentos em todo o Brasil. “Pesquisamos sobre a transformação de secos e molhados até virar bar e boteco, a presença sociológica dentro da nossa sociedade”, completa Fernanda Saldanha.
O trabalho detalha a importância dos botequins sob o ponto de vista cultural, palcos de manifestações culturais, musicais (samba e bossa nova), “como verdadeiros santuários da autenticidade brasileira”. Além disso, a culinária de boteco, com seus petiscos saborosos e pratos regionais, representa uma expressão da diversidade gastronômica do país.
O fotolivro traz ainda a importância histórica desses estabelecimentos: “os botequins têm desempenhado um papel significativo na vida social e política brasileira. Durante períodos de ditadura e repressão, esses estabelecimentos foram espaços de resistência e refúgio para intelectuais, artistas e ativistas, que se reuniam para discutir ideias, planejar movimentos e expressar suas opiniões de forma segura. Mais do que simples estabelecimentos comerciais, eles são espaços que abraçam a cultura, a história e a sociabilidade do povo brasileiro.”, relata o fotolivro.
2 respostas
Meu pai José Angeli ( Mires ) tem foto no bar Bide Sujo ,com o Leminski,Jaime Lerner , Cláudio Ribeiro,e outros
Nobre trabalho de interação das recém formandas neste amplo ciclo informativo, relembra essa cultura nobre nativa e brasileira. Parabéns pelo trabalho que eleva nossos traços cultos e formaliza a tradição já centenária de reuniões, bate papos, poético e crescimento sem igual das rodas de laços interativos. Parabéns cultura brasileira, parabéns jovens semeadores do futuro.