Bragof, lançamento de Fauno Mendonça, não é uma leitura que entrega respostas mastigadas: ao contrário disso, a obra instiga os leitores a questionarem a si próprios. Quem somos? Para onde vamos? É possível mudar as decisões que tomamos no passado? Como escolher o melhor caminho? Essas perguntas permeiam o enredo protagonizado por um homem que embarca em uma viagem de trem rumo a Bragof, um lugar onde poderá reencontrar os sentimentos perdidos durante a vida.
Ao fazer um paralelo com questões existenciais, a narrativa fantástica serve como uma metáfora para a jornada interior que todos enfrentam quando tentam entender e reencontrar aspectos esquecidos ou reprimidos de si. Em um mundo onde a pressa e a superficialidade dominam, o livro usa a ficção para convidar a pausar, refletir e procurar um significado mais profundo na essência humana, enfatizando a importância de lidar com os desafios emocionais que muitas vezes são evitados na correria do dia a dia.
Nesta entrevista, o autor explica as simbologias por trás da obra, as relações da história com elementos kafkanianos e a importância do desconforto ao longo da leitura – sentimento que também é responsável por movimentar a vida. Leia abaixo na íntegra!
1 – No seu mais novo romance, você traz um enredo profundo em relação à exploração dos sentimentos humanos. O protagonista embarca em um trem rumo a Bragof e, em meio ao percurso, é confrontado com as escolhas que fez na vida. O que seria “Bragof” e como chegar a ele pode ser determinante na vida do protagonista?
Fauno Mendonça: Bragof pode ser um medo, um sonho ou um lugar. Cada pessoa define seu destino, e Bragof representa a busca incessante para fugir de si mesmo e das intempéries do mundo ou a busca para alcançar a glória existente no curso da vida. Não há uma definição plena para o título do livro, isso dependerá de cada um. Se o leitor prestar atenção poderá abstrair o verdadeiro sentido de Bragof. Cabe a ele essa escolha de descobrir a sua compreensão, e isso também vale para o protagonista da obra.
2 – De que forma você utiliza elementos kafkanianos na trama para explorar temas como culpa, absurdidade e a fugacidade da vida?
Fauno Mendonça: Kafka realmente demonstrava a realidade usando ferramentas linguísticas no plano do absurdo. Penso que a culpa, o próprio absurdo e a fugacidade da vida encontram-se absortos no cotidiano, porém, poucas pessoas têm consciência disso. De modo que, no âmbito do nosso tempo de cegueira coletiva, busco aclarar esses elementos para desmascarar os falsos sentimentos no desiderato de as pessoas vislumbrarem os melhores caminhos no momento de decidir seus rumos.
Leia também:
- Mosaico – 120 Contos de Fadas: livro infanto-juvenil promove a justiça social
- Show Rock Symphony fará tributo a Elvis e banda Creedence na Ópera de Arame
3 – A narrativa de “Bragof” desafia a racionalidade ao misturar o real com o onírico. Como acredita que esta abordagem literária possa despertar a percepção do leitor sobre a realidade e a natureza humana?
Fauno Mendonça: Temos dois mundos muito nítidos, o físico e o introspectivo. Ambos são reais, pois a realidade, grosso modo, é aquilo que se acredita. Também é preciso ter claro que não temos conhecimento da exatidão da realidade. Partindo dessas premissas, busquei na narrativa apontar todas essas gradações. Acredito que o leitor poderá perceber essas nuances e compreender com mais nitidez sua própria jornada.
4 – De que forma você usa o desconforto e a frustração do leitor com as decisões tomadas pelo protagonista como ferramentas para provocar uma reflexão sobre as próprias vidas e escolhas?
Fauno Mendonça: Nem todos aprendem sorrindo, normalmente a dor ensina com maior eficácia. Quando há sofrimento próprio ou alheio, os sentimentos ficam mais alertas para fugir do erro. O protagonista erra como qualquer pessoa, e isso causa desconforto. Contudo, vale ressaltar que esses erros são cometidos comumente por todos a todo momento, então, a frustração do erro poderá acender a luz vermelha para que esses erros não mais sejam cometidos.
5 – Considerando que o personagem principal não tem um nome citado na narrativa, qual você acha que é o impacto desse anonimato na identificação do leitor? E como isso serve para universalizar a experiência de busca por significado e enfrentamento de conflitos internos?
Fauno Mendonça: Quando escrevi o livro “A Busca dos Loucos” também não indiquei nome ao protagonista. Fiz uso desse anonimato novamente na obra Bragof para lhe dar maior universalidade. A ausência de seu nome, penso, salvo melhor juízo, aproxima o leitor aos sentimentos vividos na narrativa. Sempre busco chamar o leitor para o lugar do protagonista para que haja uma maior identificação. Um autoconhecimento ao ver a si mesmo no próprio personagem principal.
Sobre o autor
Fauno Mendonça nasceu em Goiânia, em 1968, e formou-se em Direito na década de 1990. Trabalhou por anos como advogado e atualmente atua no Poder Judiciário, em Brasília. Como escritor, publicou cinco livros: “A Busca dos Loucos”, “Ao Norte do Silêncio”, “Encontre-se”, “D. e o Procurador” e Bragof. A publicação “Encontre-se” também está disponível no formato de audiolivro.
Assessoria de imprensa
Uma resposta