Valdileia Martins: de assentamento do MST no Paraná à final olímpica

A atleta Valdileia Martins, que cresceu no assentamento Pontal do Tigre, em Querência do Norte, no noroeste do Paraná, chegou a uma final olímpica no salto em altura. O feito foi comemorado pelo MST (Movimento Sem Terra). Lesionada desde as eliminatórias da competição em Paris, a esportista teve de abandonar a disputa neste domingo (4).

Ela sentiu o tornozelo esquerdo ao iniciar a corrida para fazer o primeiro salto da decisão, parou no início do movimento e não teve condições físicas para continuar.

“Hoje tivemos a alegria e a honra de ver uma filha de camponeses chegar a uma final olímpica. Apesar de lesionada, Valdileia Martins tentou até o último instante participar da prova final, e mostrou garra e determinação, suas marcas como atleta e como ser humano”, afirmou o MST. 

Valdileia é filha de assentados na comunidade Pontal do Tigre, um dos 10 assentamentos formados em Querência do Norte, conquistados com muita luta de milhares de famílias Sem Terra, durante décadas. Foi nesse contexto rural em que a Leia, como é carinhosamente chamada pela família, deu seus primeiros saltos. 

A vara de pescar e os sacos de milho com a palha de arroz foram seus primeiros equipamentos caseiros, inventados pela criatividade do pai, Seu Israel. 

Foi uma criança Sem Terrinha. Estudou no Colégio Estadual do Campo do Centrão, junto com todas as crianças das comunidades do MST da região noroeste do Paraná. Lá teve muito incentivo de professores e amigos. 

Na juventude, passou alguns meses morando na Escola Milton Santos de Agroecologia, o centro de formação do MST localizado em Maringá, cidade na qual pôde ter acesso à estrutura adequada para treinar o atletismo. 

São mais de 20 anos de dedicação e esforço, para chegar a ser uma das finalistas da competição mundial mais importante para essa categoria esportiva. Neste momento único, Leia precisou ser ainda mais forte e passar pela dor da partida do seu pai e grande incentivador, Seu Israel, no último dia 29.  

“A trajetória de Valdileia é espelho da luta de tantas brasileiras e brasileiros camponeses, por terra para viver, por respeito, por oportunidades e por vida digna. Por isso, a vitória é celebrada por nós, pelas mulheres, pelas pessoas negras, e por toda a classe trabalhadora que se vê representada nesta história tão valiosa. É tão valiosa, que para nós, é ouro”, diz o MST. “Valdileia, obrigada pelo exemplo e pela inspiração que você é e ainda será para milhares de crianças e adolescentes Sem Terrinha, e para toda a sociedade brasileira. Você é nosso orgulho!”, finaliza o movimento.

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