Editorial
Em tempos de crises climáticas e políticas e crescimento da extrema-direita no mundo, o mundo perde com a reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Deu-se na madrugada de hoje o início de uma nova caminhará para trás.
Em seu primeiro governo, o republicano não mediu esforços para desestruturar a pauta ambiental, questionando acordos climáticos e reduzindo investimentos e políticas na área. Trump é o mais icônico negacionista do aquecimento global.
Perde também a democracia e não só a americana, mas de todo o planeta, considerando o poder e a influência dos Estados Unidos. Trump nunca respeitou o processo democrático, questionou o resultado da votação anterior e, neste pleito, sinalizou que não aceitaria a derrota.
A vitória de Trump põe mais combustível na chama da extrema-direita mundo afora – inclusive, no Brasil, que tem como seu principal líder o ex-presidente Bolsonaro, atualmente inelegível.
A eleição de Trump mostra que é uma ilusão acreditar que o mundo caminha para frente com desenvolvimento econômico, social e intelectual. Foram muitos os avanços tecnológicos nos últimos séculos, mas em que ponto eles construíram sociedades mais saudáveis, soberanas, autossuficientes e solidárias? Até que ponto houve uma evolução da massa crítica da sociedade, quando temos um lunático sendo eleito em uma das maiores potências econômicas e militares da Terra?
Considerar que Trump possa ser a saída para algo é um sintoma importante de um mundo doente, no qual a política e a democracia vão sucumbindo para dar lugar a figuras excêntricas e autoritárias. O próprio processo civilizatório está em xeque em um mundo cada vez mais egoísta, embalado e ressentido pela falsa prosperidade vendida nas redes sociais.
No fundo, é o sintoma da crise do próprio capitalismo, que cada vez mais não consegue resolver as aflições diárias da população, e ainda cria novos obstáculos a cada dia, fazendo parte das pessoas se apegarem a qualquer discurso autoritário de falsa esperança.
Se a vida não vai bem e se existe um desconforto coletivo, estes são consequências do capitalismo. Achar que a solução para tantas angústias é diminuir o estado – como é comum no discurso da extrema-direita – é uma perspectiva irracional, sem qualquer amparo na história recente.
Aliás, o que vimos, nos Estados Unidos e no Brasil, foi justamente o contrário. Em ambos os países, os governos de extrema-direita diminuíram o aparto social, sem provocar crescimento econômico. Como é curta a memória da sociedade.
A adversária de Trump, Kamala Harris, está longe de ser uma solução inquestionável. A verdade é que não existe esquerda partidária nos Estados Unidos. Os Democratas, em alguns aspectos, são até mais neoliberais que os Republicanos, estreitamente ligados ao mercado financeiro e a Times Square. Além disso, têm histórico intervencionista e imperialista em outros países.
Ainda assim, Trump tem um discurso muito mais tóxico, xenofóbico e de ódio, sendo uma ameaça maior ao processo civilizatório. Trump é a derrota absoluta. É desesperança.
Será mais difícil construir uma realidade mirando a paz mundial, o enfrentamento do aquecimento global, e o combate à fome e à desigualdade social. Hoje, o mundo perdeu.