A Celepar e a entrega da alma dos paranaenses

Por Luiz Fernando Esteche – jornalista e ex-coordenador de Comunicação da Celepar

A possibilidade de que o Governo do Estado venda uma fazenda de 70 mil metros quadrados em Campinas, interior de São Paulo, deu início a uma mobilização que uniu cientistas, representantes do agronegócio e outros setores. A propriedade abriga um banco de espécies de café que está entre os mais importantes do país.

Pesquisas do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) na Fazenda Santa Elisa começaram há mais de 50 anos. O local abriga um centro de estudos que desenvolveu 90% dos tipos de café produzidos hoje no Brasil.

O Agronegócio considera “fundamental” a continuidade de pesquisas no local. Em nota, a Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) manifestou preocupação e disse que a Santa Elisa teve “papel central” diante da “importância histórica do café no fortalecimento da economia nacional.

Com a privatização da Fazenda Santa Elisa os agricultores temem “impacto na sustentabilidade e competitividade da cafeicultura” acondicionadas na fazenda para outro local o que seria um processo dispendioso e demorado, comprometendo os avanços científicos em desenvolvimento.

Qualquer semelhança com o que está acontecendo no Paraná não é mera coincidência. Depois da Copel Telecom, que já em 2012, concluiu a implantação da sua rede de fibra óptica em todos os 399 municípios paranaenses agora chegou a vez da Companhia de Informática do Paraná, a CELEPAR, outra empresa sólida de desenvolvimento, manutenção e aplicação de soluções em tecnologia de informação e comunicação e que chegou a ser considerada um dos principais pólos de desenvolvimento de soluções em código aberto, os chamados softwares livre, do mundo.

A Copel Telecom e a Celepar andaram juntas em vários projetos. Mais do que levar fibra óptica (que garante conexão com banda extra larga) a todos os cantos do Estado, a Copel Telecom transformou o Paraná em exemplo para o Brasil, que iniciou seu Plano Nacional de Banda Larga há apenas poucos 14 anos atrás.

A implantação dos primeiros cabos de fibra óptica no Paraná começou em 1995, quando a Copel iniciou a substituição sua rede de transmissão de voz e dados, que na época funcionava por um sistema de micro-ondas.

A Copel sempre se pautou pela busca da inovação. Inicialmente a rede de fibra óptica era para uso apenas da Companhia. No entanto, em 1997 a Copel iniciou um planejamento comercial, prevendo a expansão da tecnologia para 60 cidades paranaenses. Isso aconteceu porque a qualidade do sistema estava assegurada e a empresa já tinha experiência, capacitação técnica e abrangência geográfica. Além disto, em 1997 foi promulgada a Lei Geral das Telecomunicações, que abriu o mercado. Portanto, este foi o ano que a Copel Telecom iniciou a implantação do backbone (rede principal) e apresentou um projeto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para explorar os serviços no Paraná.

A Copel foi a primeira empresa do setor de energia do Brasil a obter licença da Anatel para prestar serviços de telecomunicações evoluiu bastante e atualmente a Copel conta com 9.211 quilômetros de backbone (contando os 399 municípios paranaenses e Porto União e Mafra, em Santa Catarina) e 20.262 quilômetros de linhas de acesso (aquelas que ligam o backbone às cidades garantindo capilaridade ao sistema).

Mais do que garantir uma forma eficiente de comunicação, expandir o acesso a conexões de dados em banda larga a Copel Telecom gera crescimento econômico, em especial em nações pobres ou em desenvolvimento, como atestou o Banco Mundial. De acordo com o levantamento Information and Communications for Development (Informação e Comunicação para o Desenvolvimento, em português), realizado pela instituição, cada 10% de aumento na penetração da banda larga em países pobres ou em desenvolvimento equivale a 1,3% de evolução do Produto Interno Bruto (PIB).

O Brasil se enquadra nesta perspectiva e ainda tem muito a fazer. O Plano Nacional de Banda Larga, lançado pelo governo federal em 2010, já atingiu a meta lançada à época pelo governo de Dilma Roussef, de alcançar 40 milhões de domicílios (cerca de 70% do total) com internet com velocidade de 1 Mbps (megabits por segundo). No Paraná este processo de inclusão digital já está avançado. As operadoras de serviços de telecomunicações podem compartilhar da infraestrutura de alta velocidade da Copel para atender municípios do Estado e os provedores locais de internet ganham mais facilidades para oferecer acesso à rede, promovendo esta inclusão.

Com a expansão do BEL Fibra – serviço de internet e telefonia por meio de fibras ópticas – os paranaenses podem contratar atualmente um serviço eficiente diretamente da Copel.

Todos estes avanços, no entanto, foram insuficientes para convencer o governo de que a privatização da Copel era desnecessária.O mesmo vem acontecendo com o capital da própria Companhia Paranaense de Energia, cujas ações estão sendo comercializadas na bacia das almas, ou se preferirem na Bolsa e Valores, comprometendo o controle do Estado sobre sua empresa mais lucrativa e cujos dividendos sempre contribuíram com o desenvolvimento econômico e social do Paraná

Além de possibilitar a atuação da Copel Telecom como provedora de banda larga, o anel óptico está permitindo a integração digital das instalações do Governo Estadual. Muitas prefeituras e órgãos públicos municipais também já exploram a disponibilidade do backbone de fibras ópticas para implantar programas de cidades digitais, levando os serviços públicos aos cidadãos por meios virtuais e acelerando a inclusão digital.

A Celepar, por sua vez, tem outras funções, mas não menos importantes do que os da Copel. Fundada em 1964, a Celepar é a primeira empresa pública de tecnologia de informação e comunicação do país.

A empresa se conecta a sociedade por meio de um ecossistema de novos serviços, unindo diversas tecnologias, como Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial, com o objetivo de criar produtos e soluções que sirvam de referência para as principais áreas de governo, como saúde, educação, segurança e agricultura, que auxiliam na desburocratização de processos.

Além da aproximação com outros estados e com os municípios paranaenses, a Celepar tem outra missão fundamental com a transformação digital: a proteção dos dados e informações dos milhões de paranaenses.

Com a expansão de seus serviços, a Celepar passou a desenvolver soluções para quase todas as secretarias , empresas estatais e demais órgãos estaduais. E não se tratam de soluções simples. A complexidade de sistemas como o G-SUS, por exemplo, garantem ao Estado módulos de atendimento desde a recepção dos pacientes nos hospitiais, Unidades de Pronto Atendimento e Unidades Básicas de Saúde, até os módulos da Central de Leitos, central de medicamentos e controles de internamento e Atenção à Saúde das Pessoas em Situação de Violência.

Além da saúde, o setor de Segurança Pública também, mereceu especial atenção da Celepar com o desenvolvimento de soluções para o Boletim de Ocorrência, Sistema Eletrônico de Execução Unifificado, Sistema de Gestão da Execução Penal, Sistema de Informações Penitenciárias, entre outros. Para a área da cultura, os sistemas em software livre garantiu as funcionalidades do Teatro Guaíra e da Biblioteca Pública. Na educação a Celepar garantiu o maior programa de inclusão da história, o Paraná Digital, com a informatização de todos os estabelecimentos de ensino do Paraná, além de construção de telecentros junto às bibliotecas estaduais, garantindo o acesso à internet a milhares de pessoas, em especial àquelas que residem distante dos grandes centros urbanos, como as comunidades indígenas, quilombolas, assentados rurais e pescadores do litoral. A agricultur, com a previsibilidade climática, número de rebanhos e vacinações também têm a inteligência da Celepar.

O software livre também foi responsável pelo desenvolvimento do principal sistema eletrônico de comunicação e colaboração que reúne funções de correio eletrônico, agenda, catálogo de endereços, workflow e mensageiria instantânea, o Expresso Livre. O Expresso é uma customização da ferramenta alemã E-GroupWare. Iniciado pela Celepar, o seu objetivo foi fornecer aos usuários do Governo do Estado do Paraná uma ferramenta econômica e de código aberto, em contraste com outras soluções proprietárias, uma vez que estas representavam alto custo para o estado e chegou a ser usado como o correio eletrônico ofcial da Presdiência da Rpública. Entre suas funcionalidades, encontra-se:

– Correio eletrônico (ExpressoMail). Com interface baseada em AJAX, utiliza as tecnologias dos correios web comerciais da atualidade;

– Agenda, sincronizada com módulo de correio, onde usuários recebem aviso por e-mail dos compromissos criados;

– Catálogo de endereços geral de todas as secretarias de Estado juntamente com catálogo pessoal e possibilidade de criação de grupos pessoais.

– Workflow, módulo para o desenvolvimento de fluxos de trabalho, onde é possível mapear processos, em forma de atividades, com transições, perfis e controle de acesso. Existe um motor de workflow integrado ao módulo que gerencia todos os fluxos;

– Messenger. Uma nova interface sem Java applet, refeita usando Javascript e PHP. Pode ser usada a de java também;

– Gerenciador de Arquivos, gerenciador de documentos e arquivos com controle de acesso;

– Expresso Mini -Uma nova interface para utilização do Expresso em dispositivos móveis;

– Mailman Admin para administração integrada do serviço MailMan dentro do Expresso;

– Expresso Reports para exibição de relatórios administrativos do Expresso.

Para o Detran do Paraná, a Celepar desenvolveu softwares robustos de gerenciamento das quase 3 milhões de carteiras de habilitação, com seus respectivos processos de pontuação, exames, etc., e a mesma quantidade de veículos emplacados no Paraná.

Enfim, com um corpo técnico de elevada capacidade, a Celepar está em vias de entregar todos esse ativdos à iniciaitiva privada.

As perguntas que não querem calar:

Qual o valor de uma empresa como esta, levando-se em conta toda a subjetividade dos sistemas de informação e comunicação, o valor imensurável dos dados guardados nas salas-cofres da Celepar, a verdadeira menina dos olhos daqueles que querem estas informações a qualquer custo?

Também está em jogo a soberania dos dados e dos sistemas desenvolvidos com tecnologia nacional e pela inteligência dos funcionários da Celepar.

Por esses e outros motivos é preciso barrar mais este golpe contra os interesses dos paranaense patrocionado por um governo que fez do Palácio Iguaçu um verdadeiro balcão de negócios. Com a Celepar é a alma dos paranaense que escoa pelo ralo das privatizações.

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