Reportagem publicada nesta semana no site da Revista Piauí revela o modo de fazer política do governador do Paraná, Ratinho Junior, pré-candidato à presidência em 2026. Leia na íntegra: https://piaui.folha.uol.com.br/gorgonzola-em-caixa-de-cottage/
O texto destaca a crescente influência de Ratinho na política local, impulsionada pela força do PSD — seu partido, que conquistou 41% dos municípios paranaenses na última eleição.
A reportagem, assinada pelo jornalista Felippe Anibal, também enfatiza a postura de Ratinho em evitar polêmicas, delegando decisões impopulares à Assembleia Legislativa. É comum que projetos de grande impacto, como a privatização de escolas e a venda da Copel, sejam enviados em regime de urgência, o que reduz o tempo de tramitação e o debate público.
O perfil traçado mostra ainda a relação fria e protocolar com Jair Bolsonaro. Mesmo tendo sido tratado com desdém pelo ex-presidente, Ratinho compareceu ao ato pela anistia aos envolvidos nos atos golpistas, realizado neste mês.
Outro ponto abordado são as origens do governador e sua pouca ligação com os estudos. Nascido em Jandaia do Sul, no norte do Paraná, Carlos Roberto Massa Junior mudou-se com a família para Curitiba antes dos três anos de idade.
A reportagem detalha ainda a relação de Ratinho Junior com o PT. Em 2008, chegou a ser cogitado como vice na chapa de Gleisi Hoffmann à prefeitura de Curitiba. A ruptura com o partido ocorreu nas eleições municipais de 2012, quando disputava o segundo turno contra Gustavo Fruet (PDT). Esperando apoio do PT, Junior foi surpreendido pela participação de Gleisi no programa eleitoral de Fruet. O episódio teria abalado a família Massa
Durante seus dois mandatos, com ampla maioria na Assembleia Legislativa (apenas oito deputados de oposição, num total de 54), Ratinho Junior tem tido facilidade para aprovar seus projetos. Ainda assim, recorre frequentemente ao regime de urgência. Levantamento da Piauí aponta que, entre 2020 e 2024, o governo enviou 702 propostas à Alep — dessas, 274 (quase 40%) tramitaram com urgência. “Ele não gosta de bola dividida. O pouco de bola dividida que ele tem, geralmente manda para a Assembleia e deixa o pau torar”, resume, sob anonimato, um deputado da base aliada.
Entre os projetos urgentes, destaca-se o que transformou a Copel — a “joia da coroa” do estado — em companhia de capital disperso, sem acionista controlador. A proposta foi enviada em 21 de novembro de 2022 e aprovada em apenas dois dias. Em agosto de 2023, o governo ofertou R$ 5,2 bilhões em ações da empresa. No fim de 2024, a Copel distribuiu R$ 485 milhões em dividendos.
A venda da Copel é apontada como símbolo do estilo de governo de Ratinho Junior, fortemente alinhado ao setor empresarial e com estratégias que evitam desgastes políticos diretos. “Ele fez o que nem o [ex-governador Jaime] Lerner conseguiu: privatizar a Copel”, comenta o mesmo deputado. A aprovação do projeto abalou até deputados veteranos, como Tadeu Veneri (PT), que, desiludido, optou por não concorrer novamente à Alep e foi eleito para a Câmara dos Deputados.
O mesmo padrão se repetiu nas privatizações da Ferroeste e da gestão de escolas públicas. Para o líder da oposição, deputado Arilson Chiorato (PT), o governo é avesso ao diálogo. “Em seis anos, a bancada só foi recebida duas vezes por Ratinho Junior”, afirma. Chiorato também critica o envio de projetos em datas estratégicas, próximas a feriados ou ao fim do ano, como forma de reduzir o impacto público. “Ele usa sua maioria e tratora o processo. Com isso, não entra em polêmica e só aparece na boa. Falta só vender o Palácio Iguaçu”, ironiza.
Outro ponto abordado é o império empresarial da família. Um dos principais negócios é a fazenda Agropastoril Café no Bule, avaliada em R$ 80 milhões. A propriedade possui 1,3 milhão de pés de café, além de culturas de soja e milho. Ratinho pai, que não concedeu entrevista à Piauí, possui outras propriedades, incluindo duas fazendas no Acre (175 mil hectares) em área reivindicada por indígenas Yawanawa.
O Grupo Massa de Comunicação é considerado o pilar do poder da família. Com cinco emissoras de TV afiliadas ao SBT, uma rede de 75 rádios (a segunda maior do país) e um portal digital, o conglomerado é peça-chave na projeção política de Ratinho Junior, apontado como o braço político do pai.
Na política, destacam-se dois eixos principais: a defesa da redução do papel do Estado e o fortalecimento da iniciativa privada via privatizações e Parcerias Público-Privadas (PPPs). “O que ele tem de melhor é a comunicação. Transforma um ovo em uma dúzia. Vende a ilusão de que o Paraná vive em uma ilha de prosperidade”, diz Chiorato.
A reportagem ainda narra um momento constrangedor: uma reunião no Palácio Iguaçu com Bolsonaro e Valdemar Costa Neto. O encontro durou três horas e, segundo interlocutores, tratou apenas da anistia e das alianças eleitorais para 2026. Bolsonaro, entediado, chegou a tirar um cochilo no gabinete do governador.
Apesar de não ser um bolsonarista fervoroso como Tarcísio, Ratinho Junior participou, em abril, do ato pela anistia na Avenida Paulista. Adiou uma viagem oficial aos EUA para estar presente. Postou fotos ao lado de Bolsonaro e de outros governadores da direita. Sabe que, embora corra por fora, a sucessão bolsonarista poderá passar por ele.