Uma vida não vale um chocolate?

Rodrigo da Silva Boschen, 22 anos, trabalhador, filho, neto, morador do bairro Portão em Curitiba, foi morto brutalmente após ser acusado de furtar um chocolate. O crime ocorreu depois que ele foi perseguido e agredido por funcionários ligados ao supermercado Muffato. Seu corpo foi encontrado abandonado numa rua deserta.

A morte de Rodrigo não é um episódio isolado. Ela expressa com força brutal a face mais perversa do Brasil: um país que naturaliza a violência contra jovens, que entrega a “segurança” a grupos terceirizados e que aceita — muitas vezes com cinismo — que a suspeita de um furto valha mais do que uma vida humana.

O que vale mais: uma barra de chocolate ou a vida de um jovem trabalhador?

A resposta deveria ser óbvia. Mas não é. Porque no Brasil, a seletividade penal é regra: para alguns, o furto de bilhões leva à impunidade e à aposentadoria dourada. Para outros, o suposto furto de poucos reais vira sentença de morte.

A atuação dos envolvidos foi cruel, desproporcional e ilegal. Pelas informações que se têm até agora, e considerando que seja impossível que o jovem tenha se autoflegalado, funcionários perseguiram e espancaram um rapaz até a morte. Isso é execução e barbárie.

Não é a primeira vez que isso acontece em supermercados brasileiros. Mas agora ocorreu em Curitiba. É inaceitável que a segurança privada seja tratada como força policial paralela. Segurança não é licença para caçar. Não cabe ao mercado ou a seus funcionários a decisão sobre quem vive e quem morre. Não cabe a funcionários aplicar pena de morte por suspeita.

Tão grave quanto o crime é o silêncio ou o cinismo de parte da sociedade, que ainda questiona: “mas ele roubou?”
Essa pergunta é sintoma da doença moral que enfrentamos. Não há justificativa possível.

Rodrigo não era um número. Era um jovem com emprego, família, vínculos, história. Ele não morreu só por um chocolate, mas também pela normalização da violência, pela impunidade estrutural e pela cultura da punição sumária que grita mais alto que o direito à vida.

A vida de Rodrigo valia muito mais do que o sistema que a tirou.

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