Dois dias após a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou, em primeiro turno, o projeto da vereadora Carlise Kwiatkowski (PL) que concede o título de Cidadã Honorária de Curitiba à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A votação ocorreu na manhã desta segunda-feira (24) e reacendeu um debate sobre o uso político das honrarias da Casa e sobre os critérios previstos na Lei Complementar 109/2018, que exige contribuições concretas dos homenageados ao desenvolvimento da capital.
O projeto recebeu 21 votos favoráveis e 6 contrários, atingindo a maioria simples necessária. Apesar da defesa intensa dos vereadores da base bolsonarista, a iniciativa ocorreu sob forte contestação de parlamentares da oposição e de observadores das redes sociais, que questionaram tanto o mérito da homenagem quanto o momento político escolhido.
Argumentos pró-homenagem: voluntariado, Libras e atuação nacional
Em plenário, Carlise afirmou que Michelle Bolsonaro “colocou a inclusão no centro do debate nacional”, citando ações de voluntariado, o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e articulações para mães de crianças com doenças raras. Vereadores aliados ampliaram a defesa, associando a ex-primeira-dama ao Programa Pátria Voluntária e dizendo que o projeto justificaria a homenagem por “mobilizar milhares de voluntários”.
Parlamentares como Eder Borges (PL) e Delegada Tathiana Guzella (União) buscaram enquadrar Michelle como liderança feminina nacional e figura de referência cristã, enquanto Lórens Nogueira (PP) mencionou ações do Pátria Voluntária em Curitiba, como a distribuição de cestas básicas na pandemia. Para Carlise, “mesmo uma única mãe atípica acolhida” justificaria a concessão do título.
Votos contrários: falta de comprovação de ações em Curitiba e críticas ao simbolismo político
A oposição, porém, rebateu ponto a ponto. Para Vanda de Assis (PT), a proposta ignora o próprio texto da legislação municipal:
“A honraria exige contribuição concreta e mensurável para Curitiba. Não há evidências disso.”
Ela também relacionou a imagem da ex-primeira-dama a episódios como o enfrentamento da pandemia, o aumento da fome no país e os atos de 8 de janeiro.
Professora Angela (PSOL) adotou tom ainda mais crítico, citando investigações envolvendo Michelle Bolsonaro e afirmando que a Câmara deveria ter prudência ao avaliar a maior honraria da cidade:
“A aprovação exige lisura. Não podemos normalizar homenagens em meio a investigações e sem lastro de atuação local.”
Marcos Vieira (PDT) declarou voto técnico, dizendo não ter encontrado “elementos objetivos” que demonstrassem contribuição direta da ex-primeira-dama à cidade.
Já Camilla Gonda (PSB) apontou “inversão de prioridades”, lembrando que temas como transporte coletivo e políticas sociais seguem aguardando atenção do plenário.
Quem é a autora do projeto — e por que sua atuação foi questionada
A responsável pela proposta é a vereadora Carlise Kwiatkowski (PL), em seu primeiro mandato. Embora pouco conhecida antes da eleição, ela voltou ao centro do debate político municipal com a apresentação do título a Michelle Bolsonaro.
Durante a campanha de 2024, Carlise recebeu aproximadamente R$ 500 mil em recursos do fundo partidário, um dos maiores repasses para candidatos ao Legislativo municipal — número que já havia levantado questionamentos à época. Com a tramitação da homenagem, o tema voltou a circular nas redes sociais, reacendendo críticas sobre o peso político e financeiro de sua candidatura.
A análise editorial do XV Curitiba, que acompanha diariamente a produção legislativa, indica que a vereadora mantém atuação discreta no plenário, com poucas falas relevantes e baixo volume de projetos de impacto direto para a cidade. Na avaliação do portal, a homenagem a Michelle Bolsonaro é, até agora, seu gesto político de maior visibilidade no mandato.