O debate sobre os impactos econômicos e sociais das quedas recorrentes no fornecimento de energia no Paraná tem impulsionado um movimento político e social pela reversão da privatização da Copel, realizada em 2023 pelo governo do Estado. A mobilização ganhou novo fôlego a partir de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), que reuniu especialistas, representantes sindicais, movimentos sociais e parlamentares.
Proposto e organizado pelo deputado Arilson Chiorato (PT), líder da Oposição, o encontro consolidou a articulação em torno de uma campanha para permitir que o Governo do Paraná recompre ações da Copel e retome o controle acionário da companhia.
“Quedas frequentes de energia, demora na religação e solicitações de serviço sem resposta passaram a fazer parte da rotina dos paranaenses. A Copel deixou de investir como fazia ao longo de décadas. Hoje temos uma empresa terceirizada, com quadros esvaziados por um Plano de Demissão Voluntária que retirou cerca de 50% da força de trabalho”, denunciou Chiorato. “Uma empresa que já foi referência nacional hoje lidera rankings de reclamações”.
O parlamentar explicou que a estratégia central do movimento é a coleta de assinaturas para apresentação de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP), que autorize o Estado a recomprar ações da empresa. A coleta será realizada de forma presencial e também por meio digital, com certificação, permitindo que a população manifeste formalmente sua posição contrária à privatização. Movimentos sociais que participaram da audiência se comprometeram a atuar na mobilização.
A meta inicial é reunir ao menos 90 mil assinaturas, número exigido pela Constituição do Paraná para que um projeto de iniciativa popular tramite no Legislativo estadual — o equivalente a 1% do eleitorado, distribuído em pelo menos 50 municípios, com participação mínima de 1% dos eleitores em cada um deles. O detalhamento técnico da proposta foi apresentado pelo ex-deputado estadual André Vargas, que informou que o abaixo-assinado estará disponível em plataforma digital em fase de desenvolvimento.
Impactos e sucateamento
Durante o debate, a deputada Luciana Rafagnin (PT) destacou os prejuízos enfrentados pelo setor produtivo em decorrência dos apagões. Em episódios recentes, mais de 1 milhão de imóveis chegaram a ser afetados. “Tivemos casos de produtores que perderam milhares de aves por falta de energia. Mesmo dias depois dos temporais, milhares de famílias ainda estavam sem luz”, relatou.
A situação também foi abordada por Tainá Guanini de Oliveira, da Juventude Rural da Fetaep, e pelo advogado Fabrício Kleinibing, que apontaram perdas recorrentes entre produtores de leite, avicultores e criadores de tilápia.
Para o deputado Professor Lemos (PT), a redução drástica do quadro funcional após a privatização comprometeu diretamente a qualidade do serviço. Segundo ele, mais de 1,4 mil eletricistas foram desligados. “A Copel é a maior empresa do Paraná e uma das maiores do Sul do Brasil. Foi vendida por um preço vil. O Estado pode e deve recomprar as ações e reassumir a direção da companhia”, afirmou. O parlamentar também informou ter protocolado requerimento para criação de uma comissão legislativa específica para acompanhar o problema das interrupções de energia.
A deputada Ana Júlia Ribeiro (PT) reforçou que a mudança de lógica da empresa impacta diretamente a população. “A Copel era forte porque tinha como objetivo desenvolver o Paraná e melhorar a vida do povo. Quando o foco passa a ser apenas o lucro, se abandona a manutenção preventiva, a qualidade do serviço, a cidadania e as condições de trabalho”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR), Leandro Grassmann, apresentou dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que indicam aumento expressivo no tempo médio de reparo após a privatização, além da elevação nos valores pagos em compensações aos consumidores. “Alertamos que haveria mais lucros e dividendos, mas com piora na qualidade do serviço e aumento das tarifas — e isso está se confirmando”, disse.
Já Alexandre Hungaro da Silva, presidente da Central dos Trabalhadores Brasileiros, criticou o processo de desmonte da empresa, citando a venda de imóveis e da Usina Termelétrica a Gás de Araucária (Uega). “A Copel está sendo fatiada. Não é mais a mesma empresa de antes da privatização”, afirmou.
Representantes de movimentos populares também alertaram para o impacto dos apagões sobre a população mais vulnerável. Ana Clara, do Movimento de Trabalhadoras por Direito (MTD/PR), e Paulo Bearzoti, do Movimento Popular por Moradia (MPM), destacaram perdas de eletrodomésticos e danos irreversíveis a famílias de baixa renda. “Para quem tem pouco, um apagão pode significar perder tudo”, resumiu Ana.
O líder comunitário Davi Taborda denunciou ainda processos de reintegração de posse promovidos pela empresa em áreas atravessadas por linhas de transmissão, especialmente em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, onde cerca de 240 famílias são afetadas.
Também participaram do debate Rodrigo Maia (Sindiquímica/PR), Luciano Zanetti (Sindipetro/PR/SC), Carla Lima (Fort/PR), Nelsão da Força (Força Sindical/PR), Vanda de Assis (PT), Marlei Fernandes de Carvalho (CUT), José Carlos (Siquim/PR) e André Vargas, secretário-geral do PT Paraná.

