Rota Curitiba de Lutas destaca histórias, lugares e personagens invisibilizados da capital paranaense

Mostrar a cidade que resiste. Este é o objetivo da rota lançada que apresenta um roteiro pelas histórias, lugares e personagens invisibilizados da capital paranaense. O mapa “Curitiba de Lutas” é um trabalho de resgate da identidade negra, indígena e LGBTQIA+ da cidade, que vai além da narrativa contada oficialmente.

O material foi produzido a partir de uma iniciativa do Mandato Goura e da produtora cultural Roberta Cibin, com a colaboração das rotas Linha Preta, LUME – Lugar de Memória, Memória LGBTI e Caminhos da História Indígena de Curitiba. Também contou com o apoio da Máquina de Ativismos em Direitos Humanos, Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott, Acervo Bajubá e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-PR).

Um passeio guiado por espaços de memória e resistência, a partir das Ruínas de São Francisco, passando pelo Largo da Ordem, Praça Tiradentes até a Boca Maldita, no calçadão da Rua XV, marcou o lançamento da Rota Curitiba de Lutas. Mais de 50 pessoas participaram ao longo do trajeto, que durou cerca de três horas.

Como surgiu a iniciativa

O deputado estadual Goura afirmou que esse trabalho, feito a várias mãos, vem completar vários outros trabalhos de cartografia realizado pelo mandato.

“Fizemos o mapa do Paraná Indígena, do Paraná Quilombola, o mapa do Litoral Norte, e é uma alegria fechar o semestre com esse mapa da Curitiba de Lutas, trazendo memórias tão importantes para a cidade. Representa a construção coletiva da cidade, de baixo para cima, envolvendo universidade, associações e coletivos que representam essas lutas”, disse Goura.

Roberta Cibin conta que a ideia de fazer a Rota Curitiba de Lutas surgiu a partir de uma conversa com uma amiga sobre a importância de apresentar uma alternativa além da história oficial que enaltece a cidade modelo e europeia.

“A gente vive em uma sociedade ainda domina pelo patriarcado, na sua maioria por homens brancos. Então é muito importante lembrar que estas histórias existem e que todas estas outras identidades estão aqui há centenas de anos”, ressaltou.

A partir da decisão de construir a Rota Curitiba de Lutas, vários coletivos foram chamados a participar da definição dos pontos a serem destacados no mapa, que contou com a redação da jornalista Mariana Sanchez, o design de Thalita Oliveira e a ilustração de Felipe Mayerle.

Rota Curitiba de Lutas

A nova rota turística alternativa de Curitiba conta com 25 pontos que vão “da herança ao presente das populações negra e indígenas, dos grupos marginalizados aos espaços de luta, memória e resistência que seguem vivos na cartografia urbana da capital paranaense”.

Cada um dos pontos está localizado no mapa e conta uma breve história ligando os personagens ao local e suas lutas.

Histórias como a de Marianna Coelho, Maria Bueno, Maria Águeda e Gilda ganham protagonismo na Curitiba de Lutas, assim como as Gameleiras-brancas e o Sítio Arqueológico do Praça Tiradentes, o Clube das Tulipas Negras, a Delegacia dos Costumes, o Monumento à Resistência e à Luta pela Anistia no Paraná, a Sociedade Protetora dos Operários, a Casa de Passagem e Cultura Indígena e tantas outras.

Parceiros

O professor, zelador cultural e mestre Kandiero, afirmou que a história oficial contada em Curitiba precisa ser recontada. “É uma história bem certinha, bem quadradinha. Mas exclui as diversas etnias africanas, indígenas e povos ciganos. Então a gente vai ter que fazer um A E I O U ao contrário. Em África diz que nunca é tarde para voltar ao passado e resgatar o que foi esquecido”, frisou.

Mauro Leno, servidor da Funai e representante da Rota Caminhos da História Indígena de Curitiba, observou que a proposta é falar da história dos indígenas, das lutas e da contribuição para a capital paranaense. “Hoje sabemos por exemplo, que 90% das araucárias é fruto do trabalho indígena e não da dispersão por gralhas, como nos é contado”, observou.

Secretária Executiva do LUME, Flávia da Rosa Melo, observou que a instituição está instalada na antiga Penitenciária do Ahú, que foi o primeiro hospital psiquiátrico de Curitiba e presídio político. “O LUME é resultado da Comissão Estadual da Verdade e está dentro da estrutura do Tribunal de Justiça. Ele nasceu do desejo de sensibilizar mais pessoas sobre os períodos de repressão brasileira.

Representando a Rota Memória LGBTI, Leandro Franklin Gorsdorf, falou da importância do mapa Curitiba de Lutas para o reconhecimento da comunidade. “A nossa ideia é criar um acervo digital LGBTI e o percurso é só um dos instrumentos”, afirmou.

Alguns pontos indicados no mapa são bens tombados ou em processo de registro pelo Iphan, como o acervo do Museu Paranaense (MUPA), o Prédio Histórico da UFPR, o Parque Histórico do Mate, os Sítios Arqueológicos e as Gameleiras da Praça Tiradentes.

A Superintendente do Iphan no Paraná, Fabiana Moro Martins, ressaltou “a importância de trazer outros olhares e narrativas sobre esses bens protegidos, como parte de uma ação de educação patrimonial que busca visibilizar a história e a memória dos povos originários, da comunidade negra e da população LGBTQIA+ na cidade”.

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