Movimentos sociais repudiam fala preconceituosa de Cristina Graeml sobre mães solteiras

Imagem: TV BRASIL

O Movimento Nacional da População em Situação de Rua manifestou indignação por uma fala da candidata à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml, na qual ela teria estimulado que mães “solteiras” doem seus filhos.

A declaração aconteceu durante entrevista a um canal de TV. Para o movimento, a candidata revela profundo preconceito contra as mulheres – mães solos, e não tem nenhum pudor e respeito, apresentando total desumanidade. “Para ela e em seu governo caso se eleja a prefeitura vai atuar para que mães vulnerabilizadas, em situação de rua, mães solos abandonem seus filhos e os coloquem para adoção. Essa crueldade proferida por essa candidata, não é nova, infelizmente”.

Confira o restante da nota

No Brasil Colônia até o inicio do século XX, era essa triste e chocante realidade quando mulheres solteiras abandonavam seus filhos em decorrência do preconceito e da opressão social, na Roda dos expostos ou Roda da Misericórdia. Uma infinidade de crianças foram jogadas em rios ou deixadas ao tempo onde morriam por ataque de animais, doenças e fome. A roda de expostos era um depósito onde mães abandonadas, deixavam seus bebês. Essa Roda se constituia em um cilindro de madeira colocado nos Conventos e Casas de Misericórdia, onde as crianças eram deixadas pelas mulheres. O estranhamento diante de uma situação então banal, resulta do fato de que, diferente daqueles tempos, vemos hoje surgir propostas que se assemelham a esse período triste de nossa história.

Essa candidata quer recriar a “roda dos rejeitados” como uma agência municipal de distribuição de crianças, filhas e filhos de mães pobres, para doação, como se fossem objetos ou coisas. Histórias dramáticas de separações de crianças e mães não domiciliadas, em situação de rua, vulnerabilizadas, acontecem em nosso país, em nossa cidade, provocando uma drástica ruptura dos vínculos dessas mulheres com seus filhos e filhas. Essa proposta defendida por essa candidata, estigmatiza as mulheres, estimula o abandono, reforça práticas autoritarias já realizadas por parte de equipes médicas e/ou judiciais que muitas vezes afastam mãe de seu bebê, pelo fato de que em suas avaliações esta não teria condições de cria-los. Sabemos que parte da justificativa da separação desses bebês de suas mães é a incapacidade do estado, e das políticas públicas, de atendê-las e cuidar para que a criança tenha seus direitos atendidos no convívio com suas mães. Essa candidata, desconhece que em nosso país, vivemos novas relações sociais e humanas e com isso novas organizações familiares se formam. Essa candidata, desconhece o Estatuto da Criança e do Adolescente promulgado em 1990 e que inaugurou no ordenamento jurídico brasileiro a Doutrina da Proteção Integral, que declarou ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade os seus direitos. Também desconhece que a maioria dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Segundo pesquisa do IBGE/PNAD, 50,8% das famílias são chefiadas por mulheres, e mulheres, que foram abandonadas, mulheres que escolheram ficar sós, mulheres que foram abusadas e se encontravam em situação de violência. No Brasil e no mundo, as mulheres estão na linha de frente da resistência ao fascismo. Os ataques aos corpos e sexualidades, com a violência em suas formas mais extremas, junto com o reforço do modelo de família heteropatriarcal, aumentam a sobrecarga de trabalho diante da crise e precarização das condições de vida, afetando principalmente as mulheres negras. Queremos que a Prefeitura crie casas de referência para mulheres em situação de rua, com programas e ações que reconstruam a dignidade dessas mulheres, com direito a trabalho digno, qualificação profissional, geração de renda, moradia e proteção social e que possam escolher ficar com seus filhos. O que queremos é que o Estado olhe para as mães, em especial as mães vulnerabilizadas, mães com filhos com deficiência, mães em situação de rua mães negras, periféricas e pobres que são a maioria nessa cidade que inclusive contribui com os impostos, criando e fortalecendo politicas públicas universais.

Não queremos e não permitiremos que tirem nossos filhos e filhas!
Exigimos respeito e tratamento igual, conforme a Constituição brasileira!

Assinam:

– Movimento Nacional da População em Situação de Rua – MNPR

– Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros (as) – ABENFO/PR

– Centro Estadual de Defesa dos Direitos Humanos das populações em situação de rua e catadora de materiais recicláveis no Paraná – CEDDH/PR

– Coletivo Luzia

– Grupo Dignidade

– Liga Brasileira de Lésbicas – LBL/PR

– Instituto Nacional de Direitos Humanos da População em Situação de Rua – INRua

– Irmandade Sem Fronteiras

– Marcha Mundial das Mulheres – MMM/PR

– Observatório Estadual de Direitos Humanos da População em Situação de Rua – ODH POP Rua

– Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Regional Paraná (RFS/PR)

– Rede Brasileira de EDH – ReBEDH

– União Brasileira de Mulheres – UBM/PR

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