Por Pedro Carrano*
Forças populares avaliam como uma vitória da educação pública a derrota parcial do projeto privatista da Educação de Ratinho Jr.
O resultado da “consulta” oficial, entre aspas, às comunidades escolares no Paraná, de acordo com a APP-Sindicato, de 177 escolas onde ocorreram as votações, em apenas 11 (6,2%) houve aceitação da proposta do governo.
Nas demais, houve o velho tratoraço do governo e da Secretaria de Estado da Educação (Seed) impondo em 93 escolas estaduais a privatização com a justificativa da falta de quórum – e ainda cabe disputa política e jurídica nesse certame.
O projeto de Ratinho Jr é nocivo, um experimento perigoso. Avanços como esse da classe dominante geram perigosos exemplos e um patamar de generalização. Aprofundam a crise do capitalismo que se arrasta no plano mundial. Contraditoriamente, geram resistência.
Como sempre no expediente de privatização ou aplicação de medida neoliberal, o governo usou o protocolo da força com hostilidade policial, perseguição por parte do quadro burocrático da gestão e uma guerra de desinformação e cooptação nas escolas para que o projeto fosse aprovado.
Ainda segundo a APP, a estimativa é de que as empresas selecionadas recebam quase R$ 2 bilhões por ano e tenham um lucro estimado em R$ 240 milhões. A prática é antiga: o Estado abandona o investimento e entrega pra iniciativa privada.
Segundo dados levantados, a gestão de Ratinho Jr. investe em torno de R$ 8 por estudante, mas para as empresas promete pagar uma quantia 100 vezes maior, R$ 800 reais por estudante.
As 117 escolas foram divididas em 15 lotes e todos foram vencidos pelo Grupo Impulso Educação (Salta), que tem entre seus acionistas o bilionário Jorge Paulo Lemann, como nos informa o Jornal Plural.
Chamo a atenção para um fator determinante nos locais onde houve vitórias contra a privatização.
O sindicato mobilizou pela base. Parece uma sentença simples, mas ao lado dos/as professores engajados, da comunidade escolar e da militância de algumas organizações e do movimento popular, criou o movimento Não Venda Minha Escola.
Em um período histórico de defensiva dos trabalhadores e pouca conexão da esquerda com a classe trabalhadora, esse movimento expandiu, chegou nas pessoas, trouxe os chamados “novos atores para a luta”, pautou o debate. Dialogou com pais e mães da classe trabalhadora.
Colégios como o Ivo Leão, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), nesse período teve um grêmio estudantil ativo, que realizou trabalho intenso, com atos na frente da escola toda a quinta-feira, panfletagem, parceria entre movimento popular local (União de Moradores e FORT) e sindical. O grêmio criou ainda o “movimento dos leões”, com ótimo envolvimento da juventude na luta. Estão de parabéns.
Nas plenárias preparatórias antes da consulta, confesso que não vi o esforço de todas as organizações da esquerda, o que revela o abandono pela pauta da educação. E, mais que isso, a dificuldade de as organizações estarem de fato onde o povo está realizando suas lutas, anseios e mobilizações.
Em um momento ainda longo de defensiva da classe trabalhadora diante de tantos ataques desde o golpe de 2016, a ação de resistência das professoras do Paraná é um alento de que em pautas temperadas entre a luta política e as condições reais de vida do povo é possível, pacientemente, passo a passo, reconstruir a organização popular.
*Jornalista, escritor autor de História da Comuna de Oaxaca, e militante do movimento popular urbano