A chacina no Rio de Janeiro representou também uma casca de banana para o presidente Lula. O timing da operação e as declarações subsequentes do governador Cláudio Castro indicam motivações político-eleitorais. Mas o presidente foi habilidoso.
Lula não mordeu a isca. Não entrou em confronto direto com a operação — deixou subentendido seu posicionamento. O bolsonarismo esperava uma divisão explícita, com dois polos em disputa. Lula não entrou nesse jogo. O PT seguirá denunciando o massacre, como deve, mas o presidente preferiu a cautela — possivelmente municiado de dados e pesquisas qualitativas sobre o tema.
A operação — deflagrada em 28 de outubro no Complexo da Penha e no Alemão — mobilizou cerca de 2.500 agentes e resultou em pelo menos 121 mortos, segundo balanços preliminares de imprensa e autoridades locais.
Sabe-se que segurança pública é o ponto mais frágil do governo Lula junto à opinião pública. Dias atrás, ele fez uma declaração infeliz ao afirmar que traficantes também são vítimas — frase que virou munição para adversários, apesar do recuo posterior. E tanto Castro quanto outros bolsonaristas não perderam a oportunidade.
A operação ocorreu logo após esse episódio, no momento em que Lula subia nas pesquisas e ganhava projeção internacional. Era uma arapuca perfeita. O presidente esperou o máximo possível para se pronunciar. Como não surgiram notícias sobre morte de inocentes e diante de parte da população celebrando a ação, optou por uma nota prudente. Também enviou o ministro da Justiça ao Rio e montou um comitê de crise, demonstrando iniciativa e responsabilidade.
A estratégia também contemplou a defesa da PEC da Segurança Pública, que fortalece a cooperação federativa no enfrentamento ao crime organizado e que teve resistência do próprio governador Cláudio Castro, além do encaminhamento ao Congresso do projeto de lei antifacção, que integra o pacote de medidas da União para endurecer o combate ao crime organizado.
Afinal, quem já é contra o massacre vota naturalmente em Lula. O desafio é conquistar o eleitor médio e não entrar na armadilha da segurança pública — uma das pautas que impulsionaram a extrema-direita à Presidência em 2018 e a governos estaduais e cargos legislativos.
Lula está no jogo. E, estrategicamente, vem tomando as decisões corretas diante da chacina.