
Por que Lula assinou o pedágio de Ratinho Jr., modelo que foi tão criticado pelos principais aliados do presidente no Paraná?
Decisão pode ter levado em conta questões políticas, técnicas e econômicas – elementos que também poderiam ter sido usados para vetar a proposta.
Governabilidade pode ter pesado, mas também a necessidade de atrair investimentos para estimular a economia.
Além disso, houve alguns avanços no modelo defendido por Ratinho Jr. Ainda assim, este deve apresentar preços mais caros em relação ao sistema de menor tarifa defendido pela oposição paranaense.
O silêncio de deputados paranaenses após o anúncio do novo pedágio indica que a questão deixou cicatrizes na base e que Lula terá de ter atenção ao outro lado da balança. Afinal, nenhum governo sobrevive sem uma base genuína forte – aliados de ocasião pouco mobilizam e correm nas primeiras crises. E Ratinho Jr. sai novamente fortalecido, talvez ele próprio um adversário de Lula na próxima eleição presidencial.
Confira alguns pontos que podem ter pesado na decisão de Lula:


- A “governabilidade” – em outras palavras, apoio no Congresso – teve peso. O PSD de Ratinho Jr. tem 41 deputados federais;
- Ainda assim, não foi uma concessão qualquer. Os principais aliados de Lula no Paraná têm ressalvas, mesmo com os avanços em relação à proposta inicial do pedágio – aliás, as mudanças, que só aconteceram por pressão dos deputados estaduais, podem ter pesado. Em todo caso, Lula assinar o modelo de Ratinho jr. mostra que a articulação política segue sendo um desafio para o governo. E Ratinho Jr., talvez ele próprio um adversário na próxima eleição presidencial, sai fortalecido;
- Lula sinaliza que deve interferir pouco em disputas estaduais. Assim, fica a apreensão de que a privatização da Copel siga o mesmo caminho, com Ratinho Jr. vencendo mais uma vez;
- Os ministros de partidos aliados têm certa autonomia e Lula indica que não praticará ingerências. Renan Filho, de direita assim como Ratinho Jr., estava alinhado em relação ao modelo de pedágio. Mas o silêncio de deputados paranaenses após o anúncio indica que Lula também terá de cuidar do outro lado da balança, a sua base de apoio no Estado;
- A decisão pode não ter sido apenas política. O volume de investimentos, na casa dos R$ 50 bi, seria importante para Lula para fomentar a economia em um momento em que as engrenagens do crescimento estão lentas Em última instância, o custo será pago pelos paranaenses, que ficarão com ônus de um pedágio caro. Mas, alguns podem dizer, é um custo diluído em décadas, enquanto investimentos sinigicativos acontecerão já num primeiro momento;
- O pedágio prevê obras importantes, como duplicações. A questão é que os paranaenses já pagaram por muitas dessas obras, que não foram feitas, e o governo de Ratinho Jr. nunca mostrou determinação em cobrá-las com força na Justiça. Aliás, não seria surpreendente se as mesmas concessionárias do pedágio anterior aparecerem no novo.