No primeiro dia de discussão na CPI do MST, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) lembrou a história do movimento, prestes a completar 40 anos de luta por terra, teto e trabalho, direitos assegurados na Constituição Federal. Apesar de ser articulada por deputados da bancada ruralista e da extrema-direita, Gleisi considera a CPI uma nova oportunidade para demonstrar a legalidade e os benefícios da Reforma Agrária para a segurança alimentar, a saúde da população, o meio ambiente e a economia do país.
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“O MST nasceu em 1984, na cidade de Cascavel (Paraná), como resposta às grandes barragens, principalmente Itaipu, que na época foi um desastre para centenas de famílias. As áreas foram alagadas e as famílias retiradas das suas casas sem nenhuma indenização. E por todo Baixo Iguaçu isso aconteceu, inclusive com as usinas hidrelétricas da Copel. Essas famílias sofreram muito e tiveram que se organizar pra recuperar o que era seu de direito. Além disso, também tinham que recuperar áreas griladas. A história é muito dura com a maioria pobre desse país, por isso surgiu o MST. Tratar o movimento como criminoso é uma injustiça enorme”, disse a deputada. “É um movimento legítimo com uma forte trajetória de luta. Vamos mostrar a verdade sobre o MST e todo o bem que ele faz ao Brasil”, acrescentou.
Gleisi ressaltou que já visitou muitas propriedades do MST e sabe bem das dificuldades enfrentadas pelos camponeses, mas também conhece o agronegócio. “Conheço os dois lados, sei o que é trabalhar na terra, sei das dificuldades. Não sou daquelas que condena o agronegócio, acho muito importante para o Brasil e o setor tem o respeito do nosso governo. Foi com Lula que o PIB do agronegócio mais cresceu e foi renegociada uma dívida de R$ 80 bilhões, que quebraria muitos proprietários rurais. Também foi com Lula que tivemos o maior financiamento para o setor”, lembrou a deputada. “Espero que essa CPI sirva pra restabelecer a verdade e mostrar que no Brasil cabem todos”, frisou.
TRAJETÓRIA
Uma das principais contribuições desse movimento popular para a sociedade brasileira é o compromisso de produzir alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e outros venenos amplamente utilizados pelo agronegócio, cujos interesses são defendidos pela CPI. Organizado em 160 cooperativas, 1900 associações e 120 agroindústrias nos assentamentos, o MST conta com 450 mil famílias assentadas, em 24 unidades da federação, que conquistaram a terra por meio da luta e organização dos trabalhadores rurais.
O Movimento desenvolve a cooperação agrícola como um ato concreto de ajuda mútua para fortalecer a solidariedade, potencializar as condições de produção das famílias assentadas e melhorar a renda e as condições do trabalho no campo.
“Defendemos o cumprimento da Constituição Federal (que o bolsonarismo tentou rasgar em 8 de janeiro) na sua integralidade, inclusive no que diz respeito ao cumprimento da função social da propriedade. Tal princípio atende a critérios produtivos, ambientais e trabalhistas e devem ser combinados. Portanto, segurança jurídica se alcança ao se cumprir a Constituição. As famílias Sem Terra acampadas fazem a luta digna por terra, teto e trabalho, direitos assegurados na Carta Magna”, diz comunicado divulgado pelo MST na semana passada, logo após a reunião de instalação da CPI.
“Portanto, sabendo que nossa luta é justa e que, nesta CPI, não somos nós os criminosos, dela participaremos para apresentar a Reforma Agrária que o Brasil precisa. Nesta comissão, contaremos com a solidariedade não somente de valorosas e valorosos parlamentares, mas também com o apoio de toda a sociedade. Juntos, iremos superar mais uma tentativa de criminalizar nossa luta. A CPI passará, a luta do MST seguirá! Venceremos!”, acrescenta a nota.