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Zanin: a única escolha possível para o STF

Editorial

O Brasil viveu a sua principal crise desde a redemocratização com a Lava Jato. Por obra das ações pirotécnicas da operação, muitas vezes ultrapassando o limite da lei, as instituições entraram em colapso. Dilma Rousseff sofreu um golpe parlamentar que se tornou cada vez mais possível a partir do clima de terra arrasada criado pela operação que, dia sim, outro também, ocupava os noticiários. A economia quebrou. A Petrobras, que se expandia internacionalmente, passou a pagar multas no Estados Unidos – país que municiou os lavajatistas; aliás, um deles, detendo informações privilegiadas, tentou carreira por lá em empresa envolvida com a força-tarefa.

Cristiano Zanin em frente à PF, onde Lula ficou preso por quase dois anos. Foto: Eduardo Matysiak

Desde o início, o troféu maior da Lava Jato era a prisão de Lula, para tirá-lo da eleição de 2018. O presidente foi julgado e condenado em tempo recorde. Parecia que havíamos perdido um dos últimos limiares de esperança, a Justiça, contaminada que estava com a Operação, quando não mancomunada.

 Um tribunal superior, o TRF4, avalizava praticamente tudo, parecendo ser uma extensão da Operação, e não uma instância revisora. Mesmo após a extinção da Lava Jato, o TRF4 não parou de agir em prol dos interesses lavajatistas. Sua última tacada foi afastar Eduardo Appio, juiz que não faz parte da patota e investigava abusos da vara outrora ocupada por Moro.

Num jogo de cartas marcadas, Lula ficou preso quase dois anos ao arrepio da lei. Sergio Moro tornou-se a cara de uma arquitetura maquiavélica de poder que se apropriou da Justiça para fazer política.

O juiz todo poderoso, que investigava e condenava, tinha planos. Queria poder. Queria ser ministro do governo de Bolsonaro e depois ser alçado ao STF. Se acontecesse, e foi por pouco que não aconteceu, seria a maior avacalhação da República.

Se Moro tornou-se símbolo do lavajatismo, uma pessoa foi seu principal antagonista, não se curvando e enfrentando-o à altura numa disputa sem paridade de armas. Mesmo sabendo que a batalha não era meramente jurídica e que o jogo nos tribunais estava perdido de véspera, foi até o último recurso possível para denunciar a ilegalidade que trazia miséria moral e desesperança ao país. Fez leigos descobrirem o que era lawfare.

Era o advogado Cristiano Zanin. Elegante, astuto, profundo conhecedor das leis, um defensor ferrenho da Constituição.  

Portanto, não há outra opção para a indicação ao STF, neste momento, que não seja Cristiano Zanin. A escolha dele é simbólica e representa a derrota definitiva da falsa operação judicial chamada Lava Jato. Falsa porque foi política.

Há excelentes nomes para o STF. Pedro Serrano é um deles. Em termos de conhecimento jurídico e constitucional, talvez o melhor. Que seja o próximo indicado, depois de Zanin. Ou uma mulher negra, como muitos pedem. Lula errou muito em escolhas anteriores ao Supremo, indicando pessoas conservadoras para mostrar grandeza republicana. Ocorre que os escolhidos, muitas vezes, não atuaram com a mesma nobreza. Para surpresa de muitos, um escolhido por um presidente golpista se notabilizou por ser um bastião da Constituição, Alexandre Morais, o Xandão. No caso da Lava Jato, o STF só cumpriu o que se esperava quando não teve alternativas, após o escândalo da Vaza Jato.

Depois dos anos de destruição do bolsonarismo, que segue vivo, não se pode mais ser inocente. A indicação de Zanin supera os requisitos legais para o cargo. Além de possuir notório saber jurídico, o advogado é símbolo de resistência aos abusos da Lava Jato.

A primeira indicação de Lula ao STF não pode ser outra que não o advogado Cristiano Zanin. Será um gesto mais que republicano. A escolha de Zanin traz a esperança de que os humilhados serão exaltados e de que Justiça, no final, vence.

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