Copel: suspeita de dívida bilionária e outras denúncias podem resultar em CPI: “É a Copel gate”, denuncia deputado

Arilson falou com a imprensa sobre as suspeitas envolvendo a Copel. Foto: Eduardo Matysiak

O deputado Arilson Chiorato protocolou requerimento na Assembleia Legislativa para a criação da CPI da Copel, após a imprensa nacional divulgar a suspeita de que a companhia possui dívida de mais de R$ 3 bilhões.

O requerimento já possui oito assinaturas, sendo necessárias outras dez para que a comissão seja instalada. “Precisamos saber a verdade da Copel, ter poder investigação e fazer um debate transparente”.

Chiorato afirmou que também entrará com pedido judicial para que seja retirado o sigilo do processo que trata da possível dívida bilionária da companhia. “Não sei por que a Copel pediu segredo de justiça se tem dinheiro público nisso. Talvez, a intenção seja protelar a dívida e não colocá-la corretamente no balanço, parecendo que temos um caso como o da Americanas”.

Em entrevista nesta segunda-feira, dia 19, Chiorato apontou ainda outras suspeitas para ensejar o pedido, como a compra de ações por um diretor da estatal.

Além da suposta maquiagem contável, Chiorato afirma que há ilegalidades no processo de privatização, como o fato de se contratar R$ 28 milhões que seriam atribuições do sócio controlador e não da Copel, e o caso do diretor financeiro da companhia que comprou R$ 900 mil em ações da estatal possuindo informações privilegiadas. Por fim, Chiorato afirma que o escritório contratado para fazer o serviço de privatização, pelo valor de R$ 4,1 milhões, é do filho da conselheira de administração. “Está uma festa. É a Copel gate”.

Impacto na privatização

“Gera muita insegurança. Se realmente tudo isso aconteceu, pode ter havido distribuição de dividendos ilegais, dívida ao patrimônio público do Paraná e muito mais. É muito grave tudo isso. Estamos falando de uma empresa que é SA e precisa prestar informações fidedignas. Aí no lugar de explicar o porquê ataca a imprensa. Essa casa teve uma CPI da Copel e relator foi o governador Ratinho Jr, quando deputado, e nas indicações ele colocava que os mecanismos de fiscalização da Copel eram ineficientes. Agora vamos ver se o governador continua pensando isso e autoriza a sua base a assinar a CPI da Copel”.

Dívida

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) enviou ofício à Copel no qual cobra explicações sobre matéria veiculado pelo jornal Estadão. A reportagem revela que a Companhia Paranaense de Energia (Copel) já entrou com vários recursos para tentar anular uma dívida na ordem de R$3,2 bilhões.

A CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, que tem o objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores. O documento, enviado ao Diretor de Relações com Investidores, Adriano Rudek de Moura, questiona se a notícia é verídica e pede explicações sobre os motivos pelos quais a Companhia teria entendido não se tratar de fato relevante. O ofício lembra que cumpre ao Diretor de Relações com Investidores divulgar e comunicar à CVM e ao mercado qualquer ato ou fato relevante ocorrido ou relacionado aos seus negócios, “bem como zelar por sua ampla e imediata disseminação, simultaneamente em todos os mercados em que tais valores mobiliários sejam admitidos à negociação”.

A CVM chegou a ameaçar com multa caso a companhia não respondesse. Em resposta, a Copel não negou o imbróglio jurídico, mas criticou a reportagem.

“A Companhia esclarece que se trata de notícia que propaga em seu conteúdo – desde a manchete – fatos inverídicos oriundos de litígios protegidos por sigilo. Imperioso afirmar que vários são os fatos falsos noticiados. Ao contrário do que afirma a matéria, não há “condenação definitiva”, muito menos dívida “reconhecida” e sequer há qualquer decisão sobre valores (…) Na defesa dos direitos e interesses da Companhia, a atual administração ingressou com ação anulatória de sentença arbitral que, por tratar de procedimento arbitral sigiloso, tramita sob segredo de justiça. Trata-se, portanto, de questão em andamento”.

Repercussão política

Na quarta-feira, o deputado estadual Arilson Chiorato afirmou “que a matéria divulgada só confirma as denúncias que tenho feito diariamente sobre a gestão da Copel na tribuna da Assembleia Legislativa” e antecipou que pediria a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), para apurar a situação.

Para o deputado Requião Filho, líder da Oposição na Alep, trata-se de uma dívida de mais de R$ 3 bilhões que a Copel não colocou nos balanços. “Isso é maquiagem de balanço. A Copel soltou nota em que admite haver condenação e tenta jogo de palavras para esconder a verdade, prejudicando seus próprios acionistas, para tentar facilitar a venda da companhia. A Copel agrediu um jornalista, o veículo que deu a notícia e tenta desvirtuar a realidade. Nós vamos querer saber a verdade custe o que custar”.

Chiorato ainda afirma que a omissão da dívida do balanço da estatal remete ao Caso Americanas, que omitiu dos acionistas a real situação financeira da empresa. “Como havíamos denunciado houve fraude, maquiagem, da situação fiscal. A Copel, do Ratinho Jr. virou a Americanas do Paraná”, compara.

Segundo Daniel Godoy Junior, advogado da Frente das Estatais, a matéria do Estadão mostra que há omissão da empresa em apresentar de forma transparente as consequências de contratos que ocasionam prejuízos à companhia e aos seus acionistas. “Houve uma decisão arbitral. A Copel tentou anular. Mas, desde já, se tem conhecimento a partir dessas informações trazidas pelo Estadão de que há muita dificuldade do ponto de vista jurídico de que essa situação seja revertida. Os esclarecimentos que a Copel presta são tardios e insuficientes. A situação é muito grave institucionalmente”.

Ações

Ações da Copel fecharam a semana em queda de 2,75% após a divulgação pela imprensa nacional de uma possível dívida de mais de R$ 3 bilhões da companhia.

Dívida

A reportagem do Estadão revela que “após ter reconhecida uma dívida bilionária com o Fundo de Investimento em Participações em Infraestrutura Energias Renováveis (FIP IEER), por meio de um procedimento do Centro de Arbitragem e Mediação Brasil-Canadá, a Copel tenta anular na Justiça Estadual do Paraná a sentença arbitral e postergar a cobrança de R$ 3,295 bilhões indicada pelos credores em janeiro deste ano”.

O Broadcast teria apurado ainda que a Copel entrou com um pedido de ação anulatória na 1ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba e teve o pedido negado. Numa das tentativas da estatal, segundo a reportagem, na 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, o desembargador Renato Lopes de Paiva não acatou o pedido da empresa.

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