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Zucchi tem a chance de reacender sua última centelha progressista e se reconciliar a própria biografia

Augustinho Zucchi é conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná. FOTO: :Orlando Kissner/Alep

O conselheiro do TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado do Paraná) Augustinho Zucchi, em outros tempos, já foi um brizolista convicto e defendeu pautas progressistas. Ele tem a chance, agora, de preservar a própria história e os interesses dos paranaenses, quando avaliar nova denúncia envolvendo a venda da Copel, seja pela distribuição do processo levada à frente pelo presidente do tribunal – que será contestada e pode ser revertida – ou em voto em plenário. A decisão dele pode ajudar a brecar a privatização absurda da maior empresa paranaense.

Para contextualizar: nessa segunda-feira, dia 7, às vésperas da venda da Copel, uma decisão do conselheiro Mauricio Requião suspendeu a privatização da companhia, com base em novas denúncias. A presidência do Tribunal derrubou o ato, que acabou, ao menos por ora, nas mãos de Zucchi. Como primeira manifestação, ele deu 5 dias para a ainda estatal se explicar. De qualquer maneira, o caso deve ser decidido em plenário.

Foram os ideais progressistas e brizolistas, conforme declarou em entrevistas, que levaram Zucchi à política, ainda que, ao longo de sua carreira, ele tenha mudado de lado e se aliado a políticos de direita, como Beto Richa e Ratinho Jr. Não foi por acaso que Zucchi chegou ao TCE – em uma costura que começa na sua frustrada tentativa de sucessão na prefeitura de Pato Branco, em 2020.

As contradições de Zucchi são evidentes ao longo de sua trajetória política. Em 1998, quando estava no PPB e era deputado estadual, votou a favor da privatização da Copel, junto com Beto Richa, Valdir Rossoni e outros nomes da direita. Em 2001, reviu seu posicionamento, ao votar favorável a um projeto de iniciativa popular que impedia a venda da companhia.

Será que aquele espírito público de Zucchi admirador de Brizola, que se filiou ao PDT em 1989 (depois trocaria várias vezes de partido) e ajudou a criar o programa Panela Cheia, no primeiro governo de Requião, em 1991, ainda existe?

Se fosse vivo, Brizola, sua principal referência no início da carreira política, seria uma das principais vozes contra a privataria intensificada no Brasil a partir do governo provisório e golpista de Temer, estendida a estados governados por nomes da direita neoliberal, como é o caso do Paraná, com Ratinho Jr.

Para a tristeza da alma de Brizola, talvez Zucchi tenha se tornado mais uma dessas lideranças promissoras que ficam pelo caminho e não deixam legado, entregando-se ao fisiologismo. Contudo, apesar de improvável, ele ainda pode mudar essa história e se reconciliar com a própria biografia.

Ratinho Jr., o maior interessado na venda — ou entrega — da Copel, alçou Zucchi ao TCE. É natural que o ex-prefeito nutra algum grau de lealdade. Mas, até que ponto se deve ser fiel, quando o que está em jogo são os interesses de uma maioria? Vale deixar de lado convicções, se acaso ainda existam, e o respeito à própria biografia?

Voltando a 2020: Zucchi não fez sucessor em Pato Branco e ainda viu seu vice à época, Robson Cantu, que se tornou seu principal opositor, ganhar a prefeitura. O PIB da conservadora cidade do Sudoeste paranaense estava com Zucchi, mas outro grupo político havia emergido, tendo à frente Guto Silva, que viria a ser chefe da Casa Civil de Ratinho Jr. Atualmente, Guto, que apoiou Cantu, é secretário de Planejamento.

Zucchi, outrora reeleito com mais de 80% dos votos, enfrentou sua maior derrota política. Por quê? A gestão dele foi marcada pelos pilares de administrações da direita: asfalto e concreto, o que fez muito bem, embora não de maneira homogênea, e lhe garantiu a reeleição. Falhou, no entanto, em itens como a relação conturbada com o funcionalismo público e na falta de transparência e de diálogo com a população.

Mesmo assim, era preciso comportar alguém da estatura de Zucchi, que apoiara tanto Beto quanto Ratinho Jr. numa região visada pelos políticos, o Sudoeste do Paraná, pela sua força econômica. Assim, primeiro Zucchi foi para Secretaria de Desenvolvimento Urbano, em 2022. Em janeiro deste ano, foi indicado por Ratinho Jr., referendado pela Assembleia Legislativa, e assumiu o visado posto de conselheiro do TCE, aposentando-se da política partidária, desistindo de disputar novas eleições e abrindo caminho para o grupo de Guto Silva se estabelecer na região como força hegemônica.

Aos 60 anos e com idas e vindas na política, Zucchi já foi aliado e opositor do principal expoente da esquerda no Paraná, Roberto Requião. Ele já disse, em diferentes ocasiões, que se podia gostar ou não do ex-governador, mas uma coisa não se contestava: Requião tem lado.

Um lado que todos conhecem: o da defesa das empresas públicas e do combate às desigualdades sociais – questões que estão diretamente ligadas a como se enxerga o papel do Estado. Empresas públicas fortes em setores essenciais e monopolistas – como água e energia elétrica – são fundamentais para políticas públicas eficientes. Já direita só enxerga o lucro, custe o que custar, precarizando os serviços públicos.

E de Zucchi, pode-se dizer o mesmo? Ele tem lado e qual lado seria esse lado? Vale a pena colocar em xeque uma biografia para servir a interesses políticos e econômicos que prejudicam a população, como é o caso do processo de venda da Copel e seus diversos atropelos, denúncias e irregularidades?

Saberemos em breve.

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