Roger Waters ao vivo é muito mais que um show de música

Foto: Lucas Alvarenga

Um espetáculo potente de imagens, som e luzes com uma trilha sonora impactante. Assim foi a apresentação de Roger Waters no último sábado, dia 4, em Curitiba, na Arena da Baixada, no que, com certeza, é um dos maiores e melhores shows do mundo.

O show de Roger Waters é muito mais que uma apresentação de música. É a oportunidade de testemunhar a mais potente denúncia sobre os descaminhos do mundo e a necessidade de se construir alternativas humanas presente em um espetáculo. Roger Waters é uma voz fundamental em tempos de guerra e terror, fome e miséria, realidade não muito diferente do cenário em que surgiu a banda, em 1965. A exploração por meio do imperialismo segue dando as cartas, ditando o jogo e a vida de bilhões de pessoas. Por isso, resistência é a palavra de ordem.

Aos 80 anos, Roger Waters é o artista mais corajoso e afiado do panteão de grandes nomes da música. Ele coloca o dedo na ferida ao denunciar a guerra, o capitalismo, o fascismo e clamar por direitos a palestinos, negros, indígenas e trans – em suma, direitos humanos – de uma forma absolutamente impactante. Quem faz isso no show business com tanta força e destemor?

André Nunes/Mural do Paraná

Quem conta a desgraça do capitalismo ao vivo e a cores com tamanha potência e magnitude?

A mensagem inicial de boas-vidas faz todo o sentido: “Se você gosta da música de Roger Waters, mas não gosta do componente político, vá para o bar”, anuncia no telão.

Quem assistiu à apresentação do astro inglês em 2018, no Couto Pereira, já sabia o que esperar. A turnê atual tem estrutura semelhante, com big telões de led de 500m² que trazem projeções que se fundem à música e dão diferentes sentidos ao que se ouve. As imagens não são meramente decorativas. Elas impactam pela qualidade, mas também pela mensagem e pela forte denúncia.

O show de Roger Waters também é cinema.

As luzes e o som que parece vir de todos os lugares constroem um ambiente que faz o espectador se sentir parte de uma outra dimensão e mergulhar no efeito hipnótico da música.

O show de Roger Waters é sensorial.

É impossível assistir ao espetáculo e não sair diferente, tocado, impactado.

É impressionante o capricho do espetáculo. Tudo é impecável, com um respeito absoluto ao público. Nada é meia boca. São 50 toneladas de equipamento e centenas de pessoas envolvidas para que tudo aconteça de maneira perfeita e represente uma das maiores experiências da vida de quem está na plateia.

É claro que muitos saíram com um gostinho de quero mais e sentiram falta de algumas músicas na set list, como “Breathe” e “Time”. Mas ao passo em que a estrutura do espetáculo é praticamente a mesma de 2018, o show da turnê atual é completamente diferente – e não só pelo repertório, mas também pelas imagens. E essa é mais uma prova de como Roger Waters é diferente. Ele poderia se acomodar com a construção da turnê anterior, que também era perfeita, e reaproveitar recursos, e ainda assim seria um show fantástico. Mas ele faz diferente e cria praticamente uma continuação da turnê anterior. Com o genocídio que vem sendo praticado contra os palestinos, o show parece ainda mas atual, orgânico e necessário.

Também impressionou a organização do show na Arena da Baixada. Acessos, banheiros e bares funcionaram de acordo e supriram adequadamente as necessidades de uma multidão.

30 mil pessoas tiveram uma experiência única no estádio, dessas que não dá para ter pela televisão e que só acontecem na comunhão de uma multidão presente em carne e osso diante de um artista que musicalmente é genial e que sabe, como ninguém, usar a força da arte para denunciar e pedir um basta. Pedir resistência.

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