Por conta própria, o secretário de Educação do Paraná Roni Miranda revelou informações alarmantes que chocaram a comunidade escolar. Ele admitiu que a secretaria confeccionou e enviou um vídeo apócrifo que, nitidamente, tentava manipular a opinião pública contra a última greve realizada por educadores no Paraná. O movimento se opunha à privatização da educação, aprovada em junho após projeto enviado pelo governo. O vídeo custou R$ 190 mil, conforme o próprio Miranda admitiu, e foi enviado a mais de 2 milhões de pessoas, segundo informações também apresentadas por ele.
O caso pode dar pano pra manga por diversos motivos. Primeiro, porque se trata de um vídeo feito e distribuído pela máquina pública, mas que não tem assinatura. Portanto, é apócrifo. O conteúdo de tom manipulatório parece tentar criminalizar o movimento grevista, usando táticas da extrema-direita e podendo ser entendido como discurso político. Assim, corre o risco de ter ferido parâmetros da administração pública definidos pela Constituição Federal, como o da impessoalidade e tantos outros.
Outro ponto questionável é uma possível violação de dados de 2 milhões de pessoas, ferindo a LGPD.
Ao admitir somente um mês depois o envio do vídeo, Roni Miranda demonstra a hesitação e a insegurança do governo em assumir o autoria do material. Se era um vídeo comum, por que tanta omissão, o decreto de um sigilo de até 100 nos documentos da pasta (depois revisto) e demora em se manifestar a respeito?
Por fim, o secretário admite o desconto no salário de 27 mil educadores, o que dá bem mais da metade do quadro funcional do estado. Assim, contradiz o discurso do próprio governo, que dizia que a greve não havia tido adesão e era um mobilização de poucas pessoas ligadas à APP Sindicato.
Tirando a contradição, o secretário passa recibo sobre a perseguição dos educadores, parecendo ser essa uma politica do atual governo.
As ações do governo de Ratinho Jr. durante a greve — ao tramitar o projeto no tratoraço, divulgar o vídeo e perseguir educadores — são preocupantes e fogem à normalidade institucional. Chegou-se ao ponto de a PGE pedir a prisão da presidente do sindicato.
Com as admissões de agora, Roni Miranda reacende a polêmica sobre o conturbado processo de privatização da educação no Paraná e traz mais elementos contra o governo.
Pode um órgão público fazer um vídeo, bancado com recursos públicos, de teor político e conteúdo que beira à desinformação, bem como usar dados privados para o disparo?