Dona Maria, de 92 anos, está de mudança. Um pouco pela idade avançada. Mas também pela apreensão do impacto de uma obra da prefeitura que mudará a paisagem em frente à casa em que ela mora há mais de 50 anos e aumentará substancialmente o tráfego de carros e ônibus.
A professora aposentada mora em uma das áreas mais charmosas e inusitadas de Curitiba: em frente ao Cinturão Verde da Avenida Arthur Bernardes, que está em risco e deve ficar mais estreito. Nas margens de cada um dos lados, 230 árvores serão cortadas, conforme projeto do Interbairros II da prefeitura.
O sentimento, diz ela, é de tristeza. Quando chegou, há 50 anos, era quase tudo vegetação. Aos poucos, a área foi sendo urbanizada e se tornou um importante espaço de lazer e preservação do meio ambiente.
Muitos vizinhos de Dona Maria, principalmente os comerciantes, estão revoltados.
“Precisa tudo isso?”, questiona um comerciante. “Para economizar oito minutos de ônibus? E olha que acho que vai ser menos que isso”, acrescenta, opinando que haveria outras alternativas e “válvulas de escape”: “Tem várias ruas paralelas que poderiam receber intervenções, evitando o impacto ambiental”.
“Revoltante”, diz outro pequeno empresário.
“Ninguém da prefeitura nos disse de fato o que vai acontecer”, afirma apreensiva a dona de uma loja.
O Revérbero fez uma série de perguntas à Prefeitura de Curitiba. As questões foram enviadas no dia 18 de julho. Até o momento, não houve resposta. O espaço segue aberto.
Moradores e ambientalistas se organizaram contra o corte e já coletaram quase 5 mil assinatura num abaixo-assinado, que pode ser acessado neste link
A ativista ambiental Verônica Rodrigues mora perto do Corredor Verde. Ela denuncia que as obras do Inter II estão assassinando árvores adultas, diminuindo áreas permeáveis e reduzindo o habitat de pássaros e outros animais.
“Sem falar do caos que se instalou onde essa obra já chegou. Na Victor Ferreira do Amaral o estrago já começou e os moradores de entorno já sentem o impacto negativo e a tristeza pela morte de aproximadamente 40 árvores adultas exuberantes que traziam beleza, conforto térmico e alegria para quem ali vive. Esse projeto tem um impacto ambiental importante que não foi bem avaliado e precisa ser revisto com urgência! Essas obras precisam parar!”.
“Todos queremos melhorias na mobilidade da cidade, mas esses projetos precisam estar alinhados ao equilíbrio ecológico e, sobretudo, alinhados com nossa nova realidade climática. Isso não é progresso. Precisamos dar dois passos pra trás para entender como evoluir sem destruir a natureza”, protesta Verônica.
Confira as perguntas que fizemos à Prefeitura:
• Por que esta obra é necessária?
• Qual a previsão de início e conclusão das obras?
• Foram estudadas alternativas para se atingir a mesma finalidade que pudessem preservar as mais de 230 árvores que serão cortadas?
• Quanto custará a obra?
• Em que medida as obras na Arthur Bernardes comprometeram o cinturão verde?
• Quais equipamentos lá existentes serão mantidos, quais derrubados e quais construídos?
• A ciclovia será mantida?
• As quadras serão mantidas?
• Moradores e comerciantes foram avisados sobre as obras e os motivos das mesmas?
• Pessoas ouvidas pela reportagem dizem que a intervenção terá pouco impacto devido ao efeito funil, no qual por mais que se alargue determinado espaço, mais à frente, inevitavelmente, não haverá vazão pela impossibilidade de alargar a via em toda a sua extensão. Neste sentido, quais os reais impactos para a mobilidade urbana desta obra?
• Procede a informação de que um dos motivos para a obra é diminuir em oito minutos o trajeto da linha Interbairros II? Se sim, esse tempo é considerado razoável e justifica o investimento público?
• Houve estudos alternativos para se avançar na mobilidade e melhorias do transporte coletivo da linha interbairros que não interferissem no Cinturão Verde, por exemplo envolvendo vias adjacentes?
• Enquanto o espaço estiver em obras, ficará fechado para uso de lazer da população?
• Onde serão plantadas as novas árvores para compensar as que serão cortadas?
• Alguns advogados ouvidos pela reportagem dizem que o corte de árvores é ilegal, por envolver espécies nativas. Qual o posicionamento da prefeitura sobre isso?
• Existiria outro alternativa para construir o miniterminal, sendo que o local já tem um tubo robusto?
• A prefeitura realizou audiências públicas, consultas e votação junto à comunidade, conforme estabelece a PORTARIA IAP n° 176, DE 19 DE SETEMBRO DE 2007?
• Existe lista de presença de eventuais audiências?
9 respostas
Ótima matéria!!!
Muito obrigada pelo apoio. 🌳🫶🏽🌳
Triste
Simplesmente absurdo derrubarem estas árvores.
Eu sou contra a destruição do nosso corredor verde. Acredito que podem buscar alternativas que não demandem o corte de tantas árvores adultas.
Realmente não há diálogo com a prefeitura e o impacto ambiental será demasiado .Sou moradora da região e acho isso um retrocesso
, muitas pessoas estão revoltadas e os responsáveis dão respostas evasivas .Vamos lutar!!!
Mata nativa (mata atlântica )é área de preservação permanente (APP) ou seja, protegida por lei.
Mais um absurdo da prefeitura. Retirar todas essas árvores reduzirá e muito a qualidade de vida na região. Deve-se pensar em alternativas e consultar a população! Muito triste.
Absurdo. Um assassinato ecológico.