As obras do Inter 2, em Curitiba, que estão causando polêmica e protestos por causa do corte de árvores nativas, custarão R$ 91 milhões e devem durar quase dois anos. O projeto prevê o corte de 230 árvores no Corredor Verde da avenida Arthur Bernardes. Outras 40 já foram derrubadas na avenida Vitor Ferreira do Amaral e 25 na Airton Plaisant, dentro da mesma iniciativa.
Moradores e ambientalistas se organizaram contra o corte e já coletaram mais de 7 mil assinaturas através de um abaixo-assinado, que pode ser acessado neste link
Das mais de 230 árvores, muitas são adultas e há até mesmo espécies nativas, como araucárias. Ainda que novas espécies sejam replantadas em outros locais, levarão décadas para atingir o tamanho das atuais.
Com a proximidade das eleições, o assunto tem rendido debates no meio político. O deputado estadual e candidato a vice-prefeito Goura Nataraj questiona: “Cortar centenas de árvores em meio à crise climática, isso é ser uma cidade inteligente!?”
O movimento SOS Arthur Bernardes denuncia os cortes ilegais e diz que foi bloqueado no Instagram do prefeito Rafael Greca por se manifestar sobre o assunto. O movimento também entrou com uma ação cautelar.
Outro político que entrou no assunto foi o deputado estadual e pré-candidato a prefeito Ney Leprevost. Ele enviou ofício, a partir de seu gabinete na Assembleia Legislativa, à 1ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e pede providências contra a “ação potencialmente criminosa por parte da Prefeitura de Curitiba, visando o imediato cessamento dos cortes com a devida responsabilização legal”.
No documento, o deputado diz que a “Constituição Federal preconiza que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Nesta terça-feira, dia 3, o prefeito Rafael Greca se manifestou em suas redes sociais pela primeira vez sobre o assunto. “Apesar dos argumentos infundados que usam para dizer o contrário, Curitiba se firma como um exemplo de urbanização com compromisso sustentável”, disse.
Moradores e ativistas ambientais estão revoltados com o corte das árvores e vêm organizando diversas ações e protestos. Uma audiência pública aconteceu recentemente na Câmara de Vereadores. “Esse projeto tem um impacto ambiental importante que não foi bem avaliado e precisa ser revisto com urgência! Essas obras precisam parar!”, denuncia a moradora e ativista Verônica Rodrigues. “Todos queremos melhorias na mobilidade da cidade, mas esses projetos precisam estar alinhados ao equilíbrio ecológico e, sobretudo, alinhados com nossa nova realidade climática. Isso não é progresso. Precisamos dar dois passos pra trás para entender como evoluir sem destruir a natureza”, protesta.
A prefeitura sustenta, conforme pedido de informação protocolado pela reportagem, que a supressão de árvores será feita depois de avaliação dos órgãos competentes envolvidos na execução. “A partir do projeto executivo, equipes da Supervisão Ambiental da UTAG revisitam o censo arbóreo e validam cada árvore indicada no projeto para remoção. Nessa revisão, muitos indivíduos são poupados com ajustes de projeto, ou confirmados, pelo atingimento de raízes, que fragilizam a árvore”.
De acordo com a prefeitura, as intervenções na Av. Pres. Arthur da Silva Bernardes preveem sua total reconstrução, com alargamento da pista para inclusão de uma nova faixa exclusiva para o transporte público coletivo, envolvendo também novo sistema de drenagem, ajustes na geometria da via, pavimentação, novo paisagismo e iluminação. “É importante frisar que os cortes previstos são de árvores espalhadas por mais de 3 km², na área que compreende toda a extensão do projeto do Inter 2 na região, e não somente na Av Presidente Arthur da Silva Bernardes”.
Questionada se foram realizadas audiências e votação junto à comunidade, conforme estabelece a PORTARIA IAP no 176, de 19 setembro DE 2007, a prefeitura afirmou que o Plano de Mobilidade Urbana de Curitiba teve início em 2019, com a realização de 4 audiências públicas físicas, entre 24 e 31 de outubro daquele ano. “Nas oportunidades, foram apresentadas as propostas de execução das obras, com o objetivo de ampliar a eficiência da operação das linhas Inter 2 e Interbairros II”.
O poder público municipal diz que, em 2022, foi realizada uma ampla consulta pública online, retomando a temática junto às comunidades e aos usuários de ônibus.
Já os moradores questionam as audiências e dizem que não houve debate sobre os danos ambientais. “Não houve audiências públicas com apresentação do projeto, debates e discussão dos danos ambientais”, diz Verônica.
Com as obras, o Corredor Verde ficará parcialmente fechado na medida em que a execução das obras avançar. “Para que seja célere e com segurança, os espaços serão isolados para trânsito e circulação de pessoas”, explica a prefeitura.;
As quadras existentes e a academia no espaço serão reformadas. “Está previsto uma nova sede da SMELJ, a área de lazer será ampliada, com novos equipamentos das academias ao ar livre, 3 novos parques infantis, jardins de mel, playpet, ponte sobre o córrego, novas canchas poliesportivas, pista de skate, bem como a requalificação da pista de caminhada e da ciclovia”.
O projeto
De acordo com Prefeitura de Curitiba, a iniciativa é orientada à eletromobilidade e o Projeto de Aumento da Capacidade e Velocidade da Linha Direta Inter 2 é um dos alicerces do Programa de Mobilidade Sustentável de Curitiba.
A Prefeitura diz que o Projeto do Inter 2 vai elevar o padrão de operação das linhas de ônibus (Linha Direta (de Ligeirinho) Inter 2 e a paradora do Interbairros II), que são as que mais transportam passageiros em Curitiba.
”Essas duas linhas irão contar de ônibus elétricos e melhorias de infraestrutura de vias exclusivas no itinerário circular que interliga os seis eixos estruturais de transporte da cidade (Norte, Sul, Leste, Oeste, Boqueirão e Linha Verde). O Novo Inter 2, como plataforma de entrada dos ônibus elétricos na Rede Integrada de Transporte (RIT), atende ao que está previsto nos planos de governo 2017/2020 no segmento Viva Curitiba Tecnológica, que prega a inserção da tecnologia visando a sustentabilidade e a adoção de uma nova matriz energética para o transporte coletivo. O projeto também está alinhado à meta da cidade de buscar a neutralidade de carbono até 2050, estabelecida no Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas (PlanClima), em que a cidade tem metas de incentivar o aumento de usuários do transporte coletivo, com impacto direto na redução de veículos emissores de poluentes e, por consequência, na saúde do cidadão”, afirma a prefeitura na resposta.
Conforme a prefeitura, as obras previstas nos mais de 38 km de todo o itinerário do Inter 2/Interbairros II estimam uma redução de até 40 minutos no circuito completo das linhas de ônibus. “Esse ganho de eficiência da operação, somado ao uso de veículos elétricos, vão conferir mais qualidade ao transporte público da cidade, atraindo usuários e reduzindo o trânsito, com impacto direto na qualidade do ar e na emissão de poluentes”.
O prazo de execução da obra é de 540 dias corridos, a partir da emissão da Ordem de Serviço.
Confira outras respostas da Prefeitura:
Qual a previsão de início e conclusão das obras?
RESPOSTA: O prazo de execução da obra é de 540 dias corridos, a partir da emissão da Ordem de Serviço.
Quais os reais impactos para a mobilidade urbana desta obra?
RESPOSTA: A implantação de faixas exclusivas é essencial para garantir que os ônibus possam se deslocar sem obstáculos, beneficiando a população em geral. Além disso, a implantação destas contribui para reduzir a dependência de veículos particulares e promover a mobilidade sustentável, com impacto positivo na melhoria da operação e na atração de mais usuários para o sistema. Além disso, com veículos elétricos, há menos emissão de poluentes, com reflexo direto na qualidade do ar e na saúde dos cidadãos.
Houve estudos alternativos para se avançar na mobilidade e melhorias do transporte coletivo da linha interbairros que não interferissem no Cinturão Verde, por exemplo envolvendo vias adjacentes?
RESPOSTA: O objetivo do projeto é melhorar o desempenho operacional de duas das principais linhas de transporte público da cidade, em itinerários já consolidados e que obedecem às diretrizes de planejamento urbano de Curitiba, utilizando para isso a vocação das vias, conforme definido pela classificação viária. As ruas Arthur Bernardes/Mario Tourinho formam vias setoriais em que o tráfego de coletivos é permitido e estimulado, com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico e social da região.
Haveria alternativa para construir o miniterminal em outro local?
RESPOSTA: O local do novo mini terminal responde a uma ampliação do atendimento do serviço de transporte que já ocorre na região com a estação tubo Santa Quitéria. Para ampliar a oferta de linhas – com mais três em operação para conexão com o centro da cidade – será construído o terminal na Av. Arthur Bernardes, via setorial classificada para uso do transporte coletivo, conforme plano diretor de Curitiba.
Enquanto o espaço estiver em obras, ficará fechado para a população?
RESPOSTA: Parcialmente, na medida em que a execução das obras avançar, para que seja célere e com segurança, os espaços serão isolados para trânsito e circulação de pessoas.
O corte de espécies nativas não é ilegal?
RESPOSTA: Toda supressão de árvore é autorizada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, conforme legislação nacional em vigor, incluindo as medidas compensatórias de replantio de indivíduos.
7 respostas
Não existem medidas compensatórias!!Impossível substituir uma árvore adulta por mudinhas , nem é possível replantá-las. A Arthur é bela, tem sim como fazer um projeto sem acabar com essa beleza e sem gastar tanto dinheiro público.
Essa obra é absurda! O prefeito não responde a população que é contrária, os ninhos destas árvores irão para onde? Se fala em medidas compensatória, mas temos esse tempo?? Cortar árvores é fora de cogitação!!
Acredito que existam formas de viabilizar essa obra com menos impacto ambiental e social
Muitas coisas precisam ser feitas em Curitiba, e vamos mecher no que ja está certa a mais de 40 anos,destruir toda essa natureza por causa de 8 minutos, isso vai mudar muito a vida das pessoas, quero ver quando isso aqui ficar igual São paulo que não dá nem para respirar direito!
Que absurdo, precisamos de soluções sustentáveis que não destruam nosso meio ambiente!!! REVOLTANTE!