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Governo Lula se impõe com políticas, mas ainda precisa se fortalecer nas redes

O Brasil voltou é o mantra do atual governo. E não é exagero. Voltou com força total no cenário internacional e nas políticas públicas internas, com o resgate de programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular, Mais Médicos é vários outros. Já falamos disso aqui.

Mas, nas redes sociais, território fundamental para dar sustentação ao governo, o cenário merece atenção.

No Instagram, rede mais popular no Brasil, Lula teve crescimento de seguidores desde o dia 1° de janeiro de 2023. Passou de 11,9 milhões de adeptos para 13 milhões, um avanço de cerca de 10%.

Acontece que Bolsonaro manteve-se praticamente estável, o que para ele é positivo, considerando que já estava bem à frente do petista. O ex-presidente iniciou o ano com 25,6 milhões de seguidores e hoje tem 25,2 milhões – 400 mil a menos num cenário de denúncia de joias, gastos astronômicos com cartão corporativo, tentativa de golpe e a decretação de sua inelegibilidade. O estrago poderia ter sido bem pior e, ao menos nas redes, Bolsonaro está longe de ser cachorro morto.

Bolsonaro perdeu seguidores. Mas ainda tem larga vantagem no Instagram

Quando o assunto é engajamento, Lula nadou de braçada entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano – período em que saía o ex, consolidava-se o atual. Desde então, os indicadores da rede do presidente vem caindo mês a mês, e Bolsonaro voltou a ter mais popularidade.

No último mês, o inelegível teve 23,3 milhões de interações, contra 12,3 milhões no perfil de Lula. Os dados não consideram Reels – uma limitação da ferramenta utilizada para fazer a comparação, o Mlabs.

Engajamento de Lula foi maior entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano. Desde então, vem caindo

Twitter

No Twitter, tanto Lula quanto Bolsonaro cresceram desde o início do ano. O primeiro passou de 6,7 milhões de seguidores para 8 milhões (20%), enquanto o segundo oscilou de 10,8 milhões para 11,4 milhões (5%).

Uma outra ferramenta, a Social Blade, mostra que no atual ritmo Lula se aproximará de Bolsonaro na rede de Elon Musk em 2028 – isso se a plataforma do pássaro azul existir até lá.

Projeção da ferramenta Social Blade

Seria bom para Lula se a comparação terminasse aqui, mesmo com ele perdendo a disputa digital, apesar de estar em sensível crescimento. Em outras redes, o cenário é ainda mais duro para o petista.

No Telegram, o canal oficial de Lula tem 85 mil seguidores e vem caindo – isso porque, a plataforma do presidente não é atualizada desde o dia 26 de abril, mesmo com a agenda intensa do chefe do executivo. Alguém está falhando na missão e, definitivamente, não é o presidente, que tem rodado o país e o mundo.

Já Bolsonaro que, mesmo não sendo mais presidente se mostra, ao menos nesta rede, bem mais ativo, tem um número de inscritos que ultrapassa os 2,3 milhões e as postagens são diárias – apesar de ele não ter agendas oficiais.

Nesse aspecto, ponto para Fernando Haddad, que mantém seu canal na rede russa ativo e atualizado.

Avaliação

A equipe de Lula vem se esforçado para manter a conta do presidente no Instagram ativa. Talvez o problema esteja na forma de comunicar. É uma conta notoriamente em terceira pessoa e nitidamente mantida por terceiros. Lula, embora um fenômeno com o microfone à mão, não se sente tão à vontade falando para um smartphone. A comunicação da conta do presidente não é orgânica e, por vezes, é até forçada, com vídeos ou fotos que abusam de firulas e recursos de edição. Algumas vezes, é preciso fazer bonito, já em outras, o simples e natural é que funciona.

A paleta de cores é forte. Azul, branco e amarelo e fontes grandes são a base do projeto gráfico. As postagens são em sua maioria cards (montagens com imagens e texto). Bolsonaro, por sua vez, opta pelo minimalismo, como se fosse um usuário qualquer a postar. Utiliza-se de foto e legenda, basicamente.

Não existe um caminho certo e outro errado. Contudo, vale o equilíbrio. Criar empatia, apresentando-se em primeira pessoa é algo básico para qualquer social media. E se apresentar em primeira pessoa é muito mais que usar o pronome “Eu” em vez de “Ele”. Todo o conjunto fala.

Um fator deve ser ponderado na análise. É muito provável que as milícias digitais de Bolsonaro usem mecanismos condenáveis, mas que contribuem para aumentar seu engajamento: os robôs.

Comunicação oficial

A comunicação oficial do governo tem se mostrado ágil e efetiva, através de canais como a EBC. Isso ajuda na construção da política de comunicação, abastecendo sites e emissoras de rádio e TV. A agenda positiva está contribuindo. É nas redes sociais que está o desafio.

WhatsApp

Embora não haja mecanismos para mensurar as interações no WhatsApp, basta dar uma navegada pelos grupos mais à direita e mais à esquerda para notar: os lulistas andam quietos e pouco mobilizados. Momentos de maior engajamento acontecem não em vitórias do governo, como na Reforma Tributária e no lançamento de diversos programas – mas em derrotas de adversários, como durante a cassação de Deltan Dallagnol e na inelegibilidade do próprio Bolsonaro.

Nos grupos, poucos conteúdos oficiais sendo distribuídos para abastecer a base e deputados neste território fundamental para dar sustentação ao governo, as redes sociais.

Levantar a militância

Passados mais de 6 meses de governo, é hora de levantar a militância e refletir. Não adianta apenas sentar sobre o sucesso. É preciso cacarejar em todos os meios possíveis, sobretudo nas redes. Esforço que não deve apenas se concentrar na figura de Lula – os ministros também precisam estar em evidência. Bem como os programas sociais, que poderiam ter perfis próprios, contando histórias de pessoas reais.

São desafios nos quais militância e a comunicação do governo podem e devem se ajudar.

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